quinta-feira, 30 de outubro de 2008

UMA PAUSA

Quando não há dinheiro pra nada
é que eu consigo ver
o que há nos lados da estrada...

Montanhas, sol e ar puro
gargalhadas e quebras de protocolo.
Menos tempo com o Laptop;
mais tempo com a filha no colo.

Por que a vida é mais interessante
quando se consegue frear mais do que acelerar...

Então se pode aceitar perder por um lado;
pra lá na frente ser mais feliz...

Por que qualquer coisa que se quer ganhar
fica muito melhor quando se consegue dar...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O QUARTO 217










O sorriso no rosto da atriz que escreve,
na foto da revista,
no pôster da parede do quarto do poeta,
é sempre o mesmo.

Mário Quintana já não escreve.
O quarto 217 tem uma parede de vidro.
E ali perto, na Caldas Júnior, um programa de esportes
no estúdio cristal da Rádio AM tem “telespectadores”!

Os objetos pararam no tempo na saída da escada à esquerda...
- Segundo andar infinito...

Descansa Elis num dos quartos ao lado.
Crianças e professoras.
Cheiro de café pelos corredores;
e trilhas de filmes cerebrais
de cineastas europeus desconhecidos
nas salas de cinema...

E no mundo dos observadores que só podem sentir saudade:
Um copo Nadir Figueiredo com um último gole de café.
Um metro entre o quindim amarelo
e o amarelado “Correio do Povo”.
Uma garrafa de água Sarandi intacta.
Uma poesia à lápis, que sobreviveu
a bolas e mais bolas de papel amassado.
E um velho par de óculos abandonado!

Predomina a penumbra! A velha TV desligada.
A miniatura do bonde. A cama revirada.
A mini estande e seus poucos livros.

Mas é ímpar o fim de tarde!
Chaplin Dorme! Greta Garbo é linda!
Bruna não envelhece!
E Mário, mesmo tendo ido embora;
prevalece.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

OS CELULARES NO SILENCIOSO

A inspiração me pegou pela mão;
me trouxe aqui de um jeito tão leve que eu quase nem vi.

Mas meu texto fluiu até certo ponto, depois empacou...
Como se a minha capacidade de dizer qualquer coisa
tivesse entrado em greve!

Daqui eu não saio. Daqui eu não passo.
Daqui eu não saio. Daqui eu não passo.

É tanta frase que eu começo e que fica pela metade;
tanto papel que eu amasso;
que quase só o que restou... foi parar...
- pelo menos por hoje!

E a idéia que eu persigo tanto,
talvez seja a do conto
que depois de ter lido milhões de vezes
eu ainda aumentei um ponto...

Por que precisava me manter trancado dentro do quarto
mesmo sendo visto nos lugares...

Por que precisava me manter calado e solitário
mesmo tendo de andar por aí com dois celulares...

sábado, 4 de outubro de 2008

ELE ERA O CARA!

Muito esperto. Comunicativo. Animado. Todos sempre queriam jogar bola com ele, jantar com ele, ir ao cinema com ele, gritar gol ou xingar o juiz junto com ele. Até ficar sem fazer nada, desde que fosse “fazer nada” junto com ele. Era desses que toda mãe queria para genro. E que toda filha da mãe queria ficar, namorar ou mesmo casar. Tinha uns olhos azuis de parar o trânsito e, como se isso tudo fosse muito pouco, ainda mandava flores para as namoradas.

Nem precisa dizer. Mas a mulherada ficava louca com ele. Uma querendo agradar. A outra querendo chamar a atenção. Uma jogando um charme danado. A outra largando uma piadinha. Era sempre assim. Ele sempre tinha flores para mandar para a sua escolhida. E seu celular tocava tanto que chegava a irritar.

Mas num dia infeliz, o carro do amigo de infância com quem ele foi para a balada bateu de frente numa árvore. Uma figueira centenária. O carro vinha a uma velocidade bem razoável. A árvore ficou intacta. O carro amassou. Bem daquele jeito que o poeta faz com o papel quando a primeira frase não nasce de parto normal.

Não foi só isso. O amigo morreu. Ele teve diversas fraturas e perdeu um dos inconfundíveis olhos azuis. Depois de meses de molho e algumas cirurgias ele voltou a trabalhar. Meio traumatizado, assustado e com pouco amor próprio.

Passou a ser visto na rua e nos lugares só de óculos escuros. Veio a depressão. E com a depressão a perda do carisma; do romantismo e de muitas outras coisas mais. Nem parecia mais o mesmo. Deixou de ser o cara!

Nunca mais ficou em evidência e se transformou numa pessoa amarga, desinteressante e solitária. No fim ninguém se importava muito com o que aconteceu. Ao natural todos se afastaram. As mulheres sumiram. E a única coisa boa é que ele passou a economizar muito dinheiro por que não havia mais ninguém para mandar flores.

Moral da História:

Os relacionamentos entre as pessoas andam tão artificiais que, se a gente deixa de dar para ou outros o que eles esperam receber, eles simplesmente se afastam.

Se não podemos mais dar o que elas querem então nós não servimos para nada. Nos transformamos em objetos inúteis jogados numa caixa de arquivo morto ou um porão empoeirado. Somos esquecidos, desprezados e totalmente desrespeitados. E tanto faz, tanto fez. Ninguém nem nota que sempre estamos de óculos de sol.

E é nessa hora em que deixamos de ser o cara para os outros por que não temos mais nada para dar para eles que nos entristecemos de chegar à conclusão que, muitas vezes, as pessoas não estão com a gente pelo que nós somos, mas sim pelo que nós temos.

É assim que funciona! É assim que não deveria ser a vida. Mas é assim que ela é!