terça-feira, 22 de dezembro de 2009

TÃO LONGE QUANTO O "A" É DO "Z"

Ruim demais
é quando estou nos alpes
e ao mesmo tempo nos andes...

Sempre atrasado
um minuto
ou adiantado
uma vida...

Pacífica
e Atlântica
camisa aberta
molhada de suor
e lágrima...

Eu velejando sem vento
no meio do Mar Morto...

Tolo..
Ridículo...
E assustudo!

Sou teu
de um jeito
como nunca fui nem de mim!

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

GATINHO DE RUA

Gatinho sem mãe no meio da rua

não sabe o risco que corre...

No meio da via assustado

ou volta, ou morre...

 

Não era para estar na rua assim.

Devia era estar cravando as unhas de agulha

num novelo de lã pingouin...

 

Mas perdido-jogado-fora

agora é só ele, os motoristas apressados

e os pneus radiais...

 

Tudo encurta

ou fica por um triz,

e o perigo aumenta ainda mais...

 

O primeiro carro dá uma guinada e passa;

vem logo um segundo e desvia.

O gatinho indefeso indefine-se,

não sabe se arrepia ou mia...

 

Um outro carro passa tirando um fininho...

Horroriza a moça do quarto carro

que adora gatinhos!

 

O carro pára bruscamente e ela desce.

A rua, as casas e os outros carros

não entendem seu gesto,

mas acham bonito...

 

Ela salva o gatinho!

Pratica a primeira boa ação do dia!

Ela sente em seu colo

um coração felino

que quase sai pela boca de arritmia...

 

E a buzina no trânsito naquela fração de segundo

é pura impaciência...

Mas o que se devia era prestar reverência

Ao raro amor a vida que a moça espalha pela manhã

com grandiloqüência!

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

PENSAMENTOS

De onde vêm esses pensamentos todos?
De onde essas idéias que eu tento mas não refreio?
Que de manhã, quando acordo, lembram teu rosto
e de noite, quando durmo, sonham todo tempo contigo.

De onde vêm essas palavras todas?
Que nascem para ser ditas
mas que por enquanto se limitam as formas escritas.
Que quando eu escrevo saem de mim
e são tantas, que vão daqui até o fim do fim.

De onde vêm esses pensamentos?
Que quando vou tirar algo do bolso o que sai é o teu sorriso...
Que quando abro gavetas só o que acho é o teu sorriso...

De onde vêm esse jeito de pensar em ti
com tanta insistência?
De onde vem essa quantidade de pensamentos
sem tua completa anuência?

São tantos pensamentos como as gotas de chuva...
Tantos como as partículas de pó na estrada de terra...

São tantos, mas tantos...
Que vou mudar a marcha e a minha mão erra...
E quando paro no sinal vermelho
incrivelmente espero que o teu sorriso acenda no lugar do verde...

Então quando vou em frente
os trigais no embalo da melodia do vento
me lembram teu jeito de ajeitar o cabelo...

E você aqui comigo de um jeito que nem sabe!

E meus pensamentos em ti
Insistentes...
Intrigantes...
Instigantes...
Não só de agora
mas desde muito antes!

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

EPICENTRO


Minhas mãos são livres...
Escrevem, desenham arte pura.
Tem um jeito de te agarrar
próprio de quem não se segura...

São como o vento num campo de trigo dourado.
Como um arrepio que se espalha por todos os lados!

Minhas mãos passeiam teu corpo
como se o movimento fosse a nossa linguagem...
Como se em ti o menor toque
nascesse pra ser uma grande viagem...

Eu perco a capacidade de contar as horas
por que quando estou em ti,
tudo que queria ter, eu tenho agora...

Então me desconcentro;
e sinto que teu corpo é um terremoto
e o meu, é o epicentro...

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

PAI



[ No último dias dos pais, eu visitei o blog do meu amigo verseiro, o Élcio. Fiquei babando ao me surpreender com que carinho e devoção ele se referia ao seu pai. Deixei um comentário lá. Disse ao Élcio que admirava tudo aquilo que ele disse e tudo mais, mas que eu, eu mesmo não tinha muito para dizer e que, de certa forma, eu o invejava. A partir daí, estabelecemos uma comunicação e o Élcio, literalmente, me desafiou a escrever alguma coisa a respeito do meu pai. O Élcio fez um trabalho quase que de psicólogo. Me disse entre outras coisas que eu me sentiria bem escrevendo. E foi o seu incentivo que me fez escrever esse longo poema. São versos livres. Totalmente despreocupados com coisas tais como ritmo e essas outras características que marcam as poesias. Mas, se por um lado, você tiver paciência, tempo e, principalmente, empatia para se colocar no meu lugar, observará facilmente que escrevi essas coisas não com os dedos ou com o intelecto. Essas coisas saíram direto do coração numa manhã nublada em que sentei no parapeito do belvedere da ferradura do Rio das Antas. Pensei no seu Divo. Era esse o seu nome. Pronto, nuns três guardanapos de papel ( desses que tem em toda mesa de restaurante ), em cerca de meia hora ou só um pouco mais, essas lembranças que registrei e esses sentimentos me vieram aos borbotões. Quase não publiquei. Mas agora está aí. Se quiser entrar na minha emoção e em minha relação truncada com o meu pai vá em frente. Poderá achar piegas. Poderá se emocionar. Poderá se identificar. Poderá achar ótimo ou muito ruim. Mas saberá que é isso que eu tenho para falar dele com toda franqueza e simplicidade que isso merece. ]

PAI

Ele era para ser meu amigo.
Mas isso nunca deu muito certo!
Por que meu pai sempre esteve em todos os lugares
- menos quando precisava estar por perto.

Era para termos ido tomar uma média com pão e manteiga
em seu dia de pagamento.
Mas o seu tempo dormia
enquanto o meu acordava.

Senti muita falta de um pai do lado
nas vezes em que troquei os pés pelas mãos.
Mas não adiantava eu me sentir sozinho
- eu sempre soube que ele não apareceria!

Não tivemos chance de ouvir um ao outro.
Na verdade não tivemos muita chance de nada.

É que ele não foi meu amigo do jeito que podia ser.
Lamento nunca termos saído para tomar chope.
Eu nem lembro dele me pagando um sorvete.

E hoje, quando as pessoas falam dos pais
com carinho e saudade;
eu sempre me pergunto o que há de errado comigo
que eu nunca tenho muito para falar do meu.

É que eu brincava sozinho.
E os braços e os beijos eram daquela outra pessoa
- a mãe.

Um dia eu joguei a bola furada de plástico no telhado;
ele viu e eu só não apanhei porque ela se colocou no meio.
Caramba! Foi uma cena e tanto!
O velho aquele dia se sentiu desafiado!
Os seus olhos faiscavam!

Uns meses depois eles se divorciaram.
E o divórcio é dos pais, mas também dos filhos!
Eu também me divorciei!

Ficaram lembranças vagas!
Lembro de uma noite muito fria de inverno...
Eu e a mãe voltando para casa por volta das dez...
Dez da noite e ele já tinha ido dormir!
Era época de pouco dinheiro
e a única coisa que ele conseguiu deixar para nós
foi uma carreira de biscoitos de polvilho doce na mesa;
- quatro biscoitos
daqueles que, se não tomamos cuidado,
grudam no céu da boca de tão secos.

Quatro biscoitos. Lembro até do cheiro!
Eles os quatro. Bem ali na beirada da mesa.
Dois para cada um, pensamos...
O meu primeiro eu devorei.
No máximo duas mordidas.
Mas o segundo era o último.
E este eu fui comendo migalhinha por migalhinha antes de dormir.
Assim durou mais!

Talvez o meu pai tinha um coração como o meu.
Ou talvez eu tenha um como o dele.
Pois já tive algumas idéias parecidas
- embora não necessariamente encarreirando biscoitos!

Depois daquela noite fria,
depois que o meu segundo biscoito acabou;
algum tempo depois, ele se foi de casa.
Agora era definitivo!
Morando em outra cidade
eu só o veria uma vez por ano.

Eu era um guri divorciado.
Mas que tal?

Então, toda vez que nos encontrávamos eu lhe dava um beijo.
E todas as vezes a sua barba por fazer me arranhava.

Meu pai foi ausente e eu senti muita falta dele a minha vida toda.
Eu era pequeno e ele trabalhava no trem.
Nunca tinha muito o que conversar comigo.
A maior parte do tempo não estava em casa; mas com alguém.

Mas hoje quando eu faço carreteiro para os amigos e eles adoram,
eu deveria dar o crédito para ele...
Aprendi a fazer o bendito do carreteiro
de tanto ver ele cozinhando em seu fogareiro primus
que cheirava fumaça e querosene.

Ele gostava de tomar café com leite numas canecas grandes.
Muitas vezes eu o vi quebrando biscoitos
e mergulhando os pedaços na caneca.
Era quase um ritual fazer aquela sopa sumir
usando uma colher grande.

Meu pai não era muito de futebol.
Gostava do Grêmio e eu nunca gostei do Grêmio
por ser a minha vida inteira Internacional.
Mas ele era tão desligado
que eu nunca tive como fazer piada quando o Grêmio ia mal.
- Ele também nunca fez piada quando o Inter ia mal.

Deixou a mãe e nunca me fez qualquer pergunta a respeito dela.
Diferente dela que uma vez, quase vinte anos depois,
me disse que ainda o amava.

Meu pai era assim. Voz baixa. Fraca. De poucas palavras.
Barba por fazer. Não fumava. Não bebia. Ia a bailes.
Dançava muito. Era namorador.
Depois da minha mãe ele teve muitas outras mulheres;
mas eu só conheci duas.
Aquelas mulheres eram estranhas.
Parece que não faziam parte da paisagem.
Estavam sempre deslocadas.
Até o nome delas era estranho.

Ele tinha um fusca azul velho
e precisava de óculos para dirigir.
Agarrado no volante
e com a testa quase grudada no pára-brisa.
Ele sozinho no volante era um perigo.
Nos últimos tempos quando a gente saía junto
ele sempre me dava a chave do carro.

Um dia ele não viu o caminhão e não morreu por sorte.
A traseira do fusca teve de ser refeita.
Mas ele, danado, nem um arranhão.

Meu pai era viciado em rádio.
Teve diversos rádios de pilha.
Diversos modelos.
Na velhice via muita TV
mas sempre estava às voltas
apertando os botões errados do controle remoto.
Sei lá o que ele via. Não gostava de filme. Não via futebol.
Talvez via novelas e todos telejornais.
Mas eu não tenho certeza.

Um dia eu peguei ele dormindo com a TV no último do volume
e era o dia do desfile das escolas de samba do Rio.
Talvez estivesse começando a ficar surdo
para dormir com toda aquela zoeira.

O melhor presente que ele me deu
foi uma máquina de escrever portátil novinha.
- Olivetti Dora vermelha.
Eu já era adolescente quando escrevi minhas primeiras coisas nela.
Era a máquina ou um rádio Philco de pilha.
Foi muito difícil a escolha
por que eu queria os dois.
Fiquei com a Olivetti
e uns meses depois minha mãe,
sabendo que eu queria muito,
me deu um rádio Wansat
- também vermelho.

Eu era o guri mais sortudo do mundo!
Tinha meu próprio rádio!
Tinha minha própria máquina de escrever!
Mas que tal? Bom, hein!

Ainda assim eu sabia que meu pai era triste. Solitário.
Não bebia, mas estava sempre Vermelho.
Usou marcapasso uns dez anos.
E naquela última década,
o marcapasso era talvez a única coisa certa em seu peito.

Quando ele se foi; eu não chorei.
Doeu mais ver os meus irmãos chorando.

Hoje parei o carro no belvedere da ferradura do Rio das Antas.
- quem não sabe, fica entre Bento e Veranópolis.

Estava olhando a paisagem e fiquei pensando no velho Divo.
Era assim que se chamava.
Queria mostrar para ele esse lugar de sonho
e depois almoçar numa bela cantina italiana.

Mas agora eu sei que não vou mais,
( nunca mais )
beijar seu rosto nem sentir sua barba.

O que ficou dele foram esses fragmentos de história.
O cartão magnético da Caixa Federal
e a carteira de identidade com o carimbo:
- maior de sessenta e cinco anos!
Por alguma razão que não sei ficaram comigo.
Estão lá em casa no fundo da gaveta da escrivaninha.
Únicas lembranças que ficaram!
Queria o relógio de pulso mas meu irmão mais velho foi mais rápido.
Se soubesse que ele iria vender eu teria comprado.

E o cara que hoje eu sou
é bem parecido com ele em seus bons e maus momentos!
E me dou conta que ele não era uma piada;
- eu é que tenho de me cuidar para não ser!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

NEVOEIROS E ESTIAGENS



Ando de arrasto,
esgotado de tanto carregar
fardo dos outros
e pedra nos meus sapatos.

É que meus sonhos,
delirantes e grandiloquentes,
ficaram agora,
ou do tamanho certo,
ou pelo menos mais sensatos...

Aprendi que é preciso aprender
a contornar pequenas crises
sem precisar me perder em grandes aparatos...

Por que a vida de verdade
não é de meias verdades
e o que é, é mesmo, e é
e não há espaço para boatos...

Se meu céu tem nuvens
elas estão todas estiadas...
E muito embora
eu pense que saiba tudo
os meus medos não me permitem nada...

Sigo entre nevoeiros
que me deixam
sem teto para pousos
e decolagens...

Eu e a bagagem de mão,
velhas cartas e fotos
e um mapa para encontrar um amor
ao final das viagens...

E então o frio que sinto,
se pode ser atenuado ou não,
vai depender muito
da qualidade das lenhas
que eu botar para queimar;
ou de quem nesse ponto da vida se aproxime
e arrisque me acompanhar!


[ FOTO: AMANDA FONSECA – Setembro de 2009, no Campo de Santana, no Rio de Janeiro, estátua em mármore "Inverno", de autoria de Paul Jean Baptist Gasg. Clique com o lado direito do mouse na foto e abra em outra janela para observar melhor todos os detalhes.
No inicio de setembro eu e minha amiga fotógrafa Amanda Fonseca, combinamos fazer algumas coisas juntos. Surgiu a idéia de eu entrar com as palavras e ela com as imagens. Uma coisa do tipo Tom e Vinícius. Nada a ver com Tom e Jerry. Rsrsrs
Então nosso primeiro trabalho em conjunto foi publicado aqui no meu blog em 14 de setembro de 2009, sob o título: “O ouro do sol de Amanda”. Na oportunidade a minha poesia nasceu para descrever o lindo pôr-do-sol que ela me mandou por e-mail.
Agora, nesse “Nevoeiros e estiagens”, invertemos as coisas. Eu mandei a poesia por e-mail, que permaneceu inédita até que Amanda colocasse a imagem. No poema eu falo de meus desconfortos. Falo do frio que sinto e de meu céu de nuvens em tempos de total estiagem. Na foto, Amanda nos mostra o instrospectivo senhor inverno no meio de uma paisagem escurecida.
VEJA OUTRAS FOTOS DE AMANDA FONSECA EM:
http://www.panoramio.com/user/2100668.]

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A VOZ DO SILÊNCIO

A minha voz quando sai
sai do fundo...
Por que no meu mundo
os fonemas têm um caso de amor com o silêncio!

Por que o que eu sou
para mim mesmo é segredo...
E posso alternar uma pose de valente
com uma reação de típico medo...

A dor do meu poema dói
por que sou inquieto...
E por que de nada adianta ter sonhos lindos
que nunca passam do teto...

Por que meu reflexo no espelho
é o de um cara complicado...
Muito embora, de fora,
eu pareça decifrado...

Por que eu sou eu todas às vezes,
mas quem não me vê há meses
pode se confundir...

Por que meus pensamentos ficam
quando deviam ser exorcizados...
E sou esquecidiço
quando devia agir como o planejado...

Por que passo dias sem ser visto
e me escondo no fundo do mundo;
e experimento o ponto de vista
da última fileira...
E é de lá que eu espero que percebam
que sou eu cavando trincheiras
para me proteger...

E é de lá que eu quero que me ouçam
sem que me ouçam gritar...
Pois quando eu estiver em silêncio;
os demais silêncios devem se calar...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

DOR

Depois da explosão produzida pelo frio adeus,
os sentimentos estão vivos
mas respiram por aparelhos...

O que foi dito magoou e esmaga tanto
que ninguém pode saber,
se o que está esparramado para todo o lado,
são os sentimentos partidos
ou as vigas retorcidas dos sonhos em ruínas.

Há uma aflitiva procura por respostas.
Mas todas as linhas estão cruzadas.
Há uma última busca por compreensão.
Mas todas as conexões estão tão absurdamente lentas;
como se não houvesse mais lugares
nos ônibus que levam as perguntas até o destino...

Como se as vias rápidas por onde eles seguem
tivessem se tornado estradas de terra impraticáveis...

Como se meus sorrisos que eram como águas termas
tivessem agora a consistência dura de gelados icebergs.

Como se no lugar onde as perplexidades me invadem
só existissem músicas tristes de lágrimas,
para o acompanhamento macio dos lenços de pano
com uma misteriosa letra inicial que eu reconheço...

Tristeza é assim!
Pode acabar na dúzia de lenços de pano...
Ou se a instabilidade durar mais que o esperado
pode precisar de caixas e mais caixas de kleenex...

Ainda assim a pergunta que martela
pode acordar no meio da madrugada
e exigir uma resposta:
- Como sair de um jeito definitivo
se não se sabe ainda
se o próximo segundo
trará um grito de desespero
ou um silêncio angustiante?

Sair de quem se adora é assim.
Tão atordoante e inesperado
quanto ouvir explodir uma bomba e ficar sentado...

É estranho precisar arrancar árvores sem deixar raízes;
sair pela porta sem levar uma cópia das chaves...

É como passar uma noite linda batendo palmas
e acordar de manhã algemado...

E como amanhecer com um frio nas idéias,
e uma ausência nervosa de perspectiva
que pode durar meses, anos ou para sempre!

Ou que amanhã pode amanhecer com sensação de alívio!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

A VOZ ROUCA DOS PENSAMENTOS

Ao me deparar com o senhor das discussões acaloradas
eu me calei.
Por que ainda não estou pronto
para admitir que me dissipei.

É por isso que não troco um dia de PAZ
por trinta em SPA...
Por que aprendi a identificar
a diferença entre um bom caráter
e um bom cateter...

Boas idéias não devem ser colocadas à venda...

E tanto quanto conceitos preconcebidos afastam pessoas,
obras caras de arte não são automaticamente boas...

Sofás feios até podem ser confortáveis!
Pessoas não tão bem aparentadas,
podem ser as mais confiáveis!

O que eu não tenho
eu não deixo interferir no meu sorriso...

Compro e vendo o que tenho,
dou e tomo emprestado;
e meu universo encolhe ou espalha,
esteja eu calmo ou transtornado.

E é por isso que às vezes ouço
mas não gosto do som dos meus pensamentos;
pois as bocas e caras que mostro pro mundo
se justificam pelas linhas e as marcas do tempo
que eu demonstro!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

O OURO DO SOL DE AMANDA

Quando o sol beija o pescoço frio das nuvens

é a paisagem inteira que muda e em seguida arrepia...


Quem aguça os sentidos enxerga tudo colorido

e os pensamentos deixam de pensar para escrever poesia!


É um raro dourado de um ouro mais caro que o de verdade...

Uma beleza que assombra, tamanha é a expressividade.


Então os raios de sol na metade de cima de nossos corpos

não sabem da sensação gostosa morna que desce por nossas pernas...


É um mar de ouro que enriquece a paisagem...

Um sal de água tênue que desintoxica...

É uma imaginação que descobre ter asas...

num céu que se abre para tudo o que excita...


É um ar que torna mais fácil o ato de respirar...

Um horizonte vasto que aproxima...

Uma espuma dourada de onda que beija a areia

como só beijam os apaixonados...


E então as árvores vão ficando mais escuras

nos quinze minutos finais do dia!

Novos tons de verde que são inventados a cada segundo...

Como se o mundo coubesse em quinhentos,

trezentos, cem metros de praia e, depois,

só em nossos peitos quando a escuridão da noite chega

e nos envolve...


Os pontos de ouro polvilhando o fim de tarde são substituídos

e o momento mágico é eternizado na fotografia...


Então nos esperam os lençóis de linho engomado da pousada,

para uma noite de amor a mais... E muito mais poesia!


[ Foto: Amanda Fonseca - Recebi essa foto da Amanda e a primeira coisa que fiz foi ficar analisando. Fiquei reparando, observando atentamente os detalhes. Rabisquei umas coisas que não ficaram tão a altura da força dessa imagem e aí me deparei com um desafio enorme. Como ainda colocar palavras numa imagem que por si só já falava tudo? Fui dormir. Voltei uns dias depois às anotações. Amassei papel. Amassei mais papel. Até que escrevi esses versos acima. Continuo com a sensação de que as palavras ficam supérfluas diante da força da imagem. E não sei por que me passa pela cabeça uma coisa me dizendo que eu ainda vou olhar muitas vezes essa foto e que ainda vou conseguir escrever algo melhor e mais inspirado. Mas mesmo assim apresento aqui os versos que dedico à fotógrafa. Talvez sejam uma primeira versão. É realmente como eu disse no poema: Esse entardecer nessa praia é um verdadeiro "momento mágico que foi eternizado na fotografia. O OURO DO SOL DE AMANDA! ]

terça-feira, 1 de setembro de 2009

GOLES DE LAURA HARTWIG E LAURA PAUSINI

Conheço as angústias
e me sinto tão perplexo ao lado delas,
que às vezes sou eu
mas queria era mesmo ser outro...


Por que o entusiasmo em segundos
pode ficar tão pulverizado
que nem o mais hábil montador de quebra-cabeças
pode achar uma saída...

Me resta escrever poesia crua
em agendas do ano passado
em que o ontem ultrapassa o hoje...

E quando me sai a tal poesia
me incomoda muito a falta de contexto...
Por que as frases são de pouca serventia
quando só as paredes escutam...

Então fica tudo tão estranho
como um beijo apaixonado
com os olhos bem abertos.

Tudo tão sem graça
como goles de Laura Hartwig
num copo de cafezinho.

E é assim que as idéias exuberantes
voltam para as planícies da mesmice.
E das três possibilidades
pode acontecer uma ou todas;
- eu sucumbir a chatice;
- eu doer de idiotice, ou eu...
- desaparecer de esquisitice...

E assim, o único jeito de esquecer a angústia
é tentar não pensar tanto em mim mesmo!

Ou rir enquanto me olham...
E depois chorar quando estou sozinho!

( Foto Paula Barros )

sábado, 29 de agosto de 2009

MATILHA

Os grandes cães da matilha humana
estão por aí latindo...

E deve ser por isso
que eu, às vezes, só ouço os gritos da ganância...

As vozes da cobiça,
do oportunismo e do orgulho batem nos prédios...
As do ciúme e da inveja nos tédios...

E voltam ecos de um mundo cheio de submundos
em que os sonhos vão se esvaindo...

Um mundo cheio de imundos
em que as pessoas que deviam ser próximas
vão cada vez mais distanciando...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

RECIDIVA

Nasci de um sono conturbado
de um coração alagado
e um sentimento que já não se segura mais!

Minha biografia tem páginas em branco
que coincidem com os dissabores
de uma época de silêncios mortais...

Fico triste que o mundo que eu tento pintar
tem escala de cores própria.

É ele lá na dele e eu aqui na minha!
Eu conteúdo e ele rótulo,
mas sempre uma embalagem entre nós...
Eu aterrissando enquanto ele decola...
Ele calando e eu gritando até ficar sem voz.

É quase como se a melhor das telas
fosse o pano da camisa preta que me deixa bonito,
mas que quando eu uso ninguém vê.

Sofro de imaginação galopante
que não cabe em si e nem aceita limites
mas que por vezes fica restrita
ao espaço e o tempo de um grito no travesseiro.

Por que eu saio de casa para sentir o vento.
E quando não estou batendo perna
é meu tempo de cravar os cotovelos
num muro de angústias...

Estranho que no sonho aquela mulher sem rosto
não tinha mesmo rosto
mas eu percebi em meio segundo
que era tragada por tristeza excessiva!

Eu acordei com um sorriso amarelo no rosto
por que agora quando eu rio é de nervoso
e toda simples recaída, no meu caso, é preocupante recidiva.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O CORAÇÃO QUE SOFRE E SUAS LÁGRIMAS GUARDADAS EM COFRE

Quando o coração chora;

chora mesmo e pra valer...


Chora fora de hora,

chora fora de área,

e agora...


Soluça lágrimas secas,

solitárias-secretas,

intrínsecas-ensimesmadas,

caladas-discretas...

Soluça falta de soluções!

Por que desde a idade da pedra

ele tem estado numa página ímpar

enquanto seus olhos donos procuram um par.


São oito espessas camadas de concreto

aprisionando refratário coração

pelos cimentos, arames e ferros

da falta de emoção...


Seria eu aqui um Buendía

transformando as moedas dos meus sentimentos

em trabalhados peixinhos dourados de torpor?


Ou seria eu um novo "Giramundo Sabino"

que desaprendeu o amor?


Sem respostas
vou pela sombra repetindo experiências "Casablancas"
com o coração rarefeito
e cheio de sonhos que "E o vento levou..."?

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

UM HOMEM QUE SE ESCONDE NA CHUVA

Eu sou o homem que perdeu o nome.

O que toda segunda sai de casa para se esconder na chuva.

O homem que volta domingo para casa

carregando no bolso mais uma semana perdida...


Sinto um vazio esquisito no peito,

uma espécie de consciência aturdida!

Uma gaveta aberta nos pensamentos

e uma culpa muito grande autoatribuída...


Mas quando volto para casa

o primeiro grande susto é ver os móveis em outra posição.

Mas isso só é o bastante para eu me distrair por uns dez segundos...

No décimo primeiro eu já me livro das roupas suadas.


Enveredo o corpo pelo vapor de um banho morno demorado

e, quando acaba, vou atrás dos apitos irritantes do micro-ondas.

O estômago nas costas me faz ter a idéia de ressuscitar do gelo

a sobra de lasanha do jantar a dois que terminou em "bolo"...


Em poucos minutos devoro a porção na frente da televisão.

E, em menos de meia hora, estou entregue a um sono de sofá sem sonhos

que é interrompido pela música na hora do beijo do filme qualquer

que me acorda o corpo com o pescoço em ponto de torcicolo.


Seis da manhã vou esconder de novo o meu rosto na chuva...

Sair por aí para procurar o nome perdido...


Por que em semana de chuva intermitente

é muito mais fácil se manter anônimo na densidade do nevoeiro;

onde sobram mesquinhos e toda espécie de gente que "se acha".

quarta-feira, 29 de julho de 2009

PERFUME

De dentro da embalagem

eu me abro para ti

e deixo sair meu cheiro...

Não estou mais fragmentado

por que voltei a ser por inteiro...

 

Exalo minha fragrância

e encho teus pulmões de ar confortante...

Meu rótulo é misterioso

por que minhas aplicações são múltiplas.

 

Sirvo para ser aplicado em gotas

próximas ao teu ouvido.

Ou me demorando nos seios

lendo espécie de braile em teus mamilos.

 

Uma gota minha em teu colo

ou caindo descuidada em teu joelho

ainda é uma gota minha...

Contrário de tudo que é lancinante,

é a verdadeira perfeição da carícia torturante!

 

Um pingo de mim que me abandona

e que entra numa espécie de redemoinho

na concavidade do teu umbigo...

Um arrepio forte

que vai dos ombros ao meio das costas

pela ponta dos dedos.

 

E é desse jeito

que exploro milímetros de pele e desvendo segredos.

E é assim que vou

depositando minha essência em teu corpo

e teus poros agem como se já me esperassem.

 

Tua umidade me rega! Tuas aberturas me convidam!

E a flor dos instintos tem todos seus ciclos de vida

num piscar de olhos.

 

E eu me viro para sentir o teu sol em meu rosto

e aproximar todos meus girassóis e tulipas

que sou capaz de criar para te dizer coisas bonitas.

 

Tudo para te ungir

com meus aromas mais dissipadores

multiplicados por uma vontade de amar louca.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

SIGLAS


Siglas…
Siglas e mais siglas…


TV, LG, VT, NBC, ABC, BBC, MTV, SBT, HDTV, LP, CD, DVD, AP, AP, AP, BB, BC, RDB, CDB, SPC, SUV, OSPB, PT, PSDB, PMDB, PP, MST, WC, SP, SC, AC, MG, AACD, CIEE, IBC, OMT, OP, PC, HD, RPG, JPG, LCD, ICQ, MDC, MMC, DDD, GVT, AC/DC, SBP, GNV, GLP, LSD, UV, TNT, JVC, ET, EPTC, UHT, IPE, STJD, TRT, RP, PP, PhD.


O mundo anda
cheio delas!
E eu ando com
.......VOCÊ!

quinta-feira, 23 de julho de 2009

MASSA DE AR POLAR

O vento sul traz ar polar

que chega uivando

perguntando onde estão

os casacos pretos de lã.


Nas TVs e nas rádios

as moças do tempo

são as estrelas.

No auge do inverno

todos folgam ao vê-las.


Nos quartos

as luvas e os cachecóis saem das gavetas.


Nas cidades

os nevoeiros densos escondem paisagens.


E o que não daríamos

para esquentar as pernas

com um cobertor xadrez

perto de uma lareira

e bem acompanhado?


Por que ter de andar sozinho

pelas tardes congelantes

só se compara a frieza da mulher que hoje beija

mas que amanhã vira o rosto...

Por que de uma hora para a outra

o auge da paixão vira agosto...


Por que o oceano se transforma numa gota...

E a paixão é um risco

no vapor da respiração junto ao vidro.

Pode-se até escrever um "eu te amo"

mas a frase forte some em segundos

e quem tinha que ler nem vê.


Então o frio encorpa e faz estragos no corpo!


Um frio muito mais frio do que

dormir sozinho acompanhado!

Por que estar sozinho com alguém do lado

é quase tão triste quanto se sentir infeliz

e como ter de sorrir sem ter motivo pra rir...

quarta-feira, 15 de julho de 2009

NEVE

O amor não é como a flor de neve
ele é só como deve...

Não tem sono e sonha...
Às vezes gosta de ficar sozinho,
às vezes se deprime por estar sozinho...

 

O amor é como todos
e como poucos...

 

Dorme e acorda.

Freia e acelera.

 

Flerta

namora

e até Casa...

Enche o coração

os bolsos

e todos os cômodos da casa.

Bate e acaricia.
Ousa e malicia.

É de janelas e portas
escancaradas...

 

De oceanos cheios de poeira

e buracos na estrada.

 

Faz ponto de saque

e de bloqueio.

Pula de mão trocada

e espalma pra escanteio.


O amor é

de ouvidos abertos,

olhos e tato
espertos...

Sempre é de cama
e às vezes é de maca...

Fala com todos os "esses",
responde com todos os "erres"
embora nunca erre.

 

Não ganha

não toma emprestado

e não compra

por que se basta...

 

Por que

não sendo como a flor de neve

ele é só como deve...

 

simples

definido

e definitivo

com-par-ti-lha-men-to!

 

( Este é só um exemplo do que pode acontecer quando se visita um blog e se dá de cara com um texto bom ou uma poesia que nos faz sorrir. Foi o que aconteceu quanto eu visitei hoje cedo o blog da Carmem (http://asvezesceuazul.blogspot.com/) e li o poema Flor de Neve. Na mesma hora diversas palavras brotaram e eu deixei um comentário lá junto ao post com uma primeira versão desse poema. Só que depois, como acontece com a maioria das pessoas que escrevem, que gostam de escrever e que são perfeccionistas, eu voltei aos versos. O resultado está aqui. Versos editados. Outros acrescentados. E, no final, uma série de imagens que talvez apenas eu entenda cem por cento o significado. – Para Carmem. Uma pequena retribuição em relação ao bem enorme que me proporcionou a leitura de seus "Plátanos". )   

segunda-feira, 13 de julho de 2009

PALAVRAS

as PALAVRAS

ultrapassaram as paredes duras

das capas do Aurélio... 

e depois de milhares

de combinações de letras

descobriram a senha

e entraram em mim pelos olhos...

 

é dessas invasões

que no fundo se gosta

e que gota a gota

produz enlevamento

e dá vontade de mais.

 

por que as PALAVRAS

vestem os assuntos de significado

e aí é impossível ficar impassível.

 

frases e frases

de uma aproximação que se deu às pressas

mas que depois foi acalmando

e tornando tudo que trouxe indispensável!

 

e então posso dizer

que teus pensamentos ricos

bonitos e bem escritos

vieram acalmar minha inquietação

e me fazer companhia...

 

e eu que andava tácito

e previsível

recuperei o bom humor...

e descobri que até na solidão

há amor.

 

e assim hora entretido, hora atrevido...

aprendi, pelo que eu tenho lido,

que essas PALAVRAS

me invadiram sem pagar ingresso

e não precisaram de material impresso

para se tornarem gêmeas dos meus pensamentos.

 

[ Poema dedicado a minha grande amiga e incentivadora Patty Alves, a dona das palavras do blog Palavras.]

DO TÉRREO AO AÉREO NUM SEGUNDO

Entendo a apologia.

Trato insônia com homeopatia;

e me encrenco.

 

Mais e menos

multiplicadas vezes,

divididas teses.

 

Acordo prólogo,

passo o dia drama,

vou dormir epílogo

sob pseudônimo...

 

A poesia e o muro,

o cartão visa,

e o porto seguro...

 

Vou do térreo

ao aéreo

e caio

ou desmaio.

 

Já nada me segura.

Já nada me apura.

Nenhum cara me assusta.

Tudo me custa caro.

 

Aceito

a insistência;

a eloqüência

do meu limite

escrito em verso

livre.

 

Meus devaneios

- enleios

que estão por tudo

e deixam mudo

quem tenta saber.

 

Quando as palavras gritam

e as desculpas irritam...

 

Quando os cotidianos escapam,

as longitudes espaçam,

e há caminhos de fadas

e caminhos de fo_ _ _ !

 

A folha de plátano

repousa;

a de cerejeira

exubera

e o monte Fuji

não foge.