sábado, 21 de março de 2009

RETICÊNCIAS

Fujo dos pedágios, descubro os desvios.
Que é para chegar empoeirado e nunca antes da hora...

Por que devia ser proibido viajar em carro que não tem rádio...
Por que essa coisa de andar amarrado de um lado pro outro
não traz pessoas interessantes para o banco do lado...

Por que quando o relógio se livra do pulso no inicio da noite
a pressa se confunde com um soco na sombra...

As linhas da mente se desamarram
mas os nós na boca do estômago são os que mais incomodam...

Intervalos de tempos indefinidos!
Jantares na mesma mesa de canto
que são sempre mudos e nunca variam o cardápio...

De volta ao quarto, brigo com registros de chuveiro enferrujados
e deito sem roupa sem me importar que alguém não me veja...

Porque ultimamente se tenho sorte, sou eu, o ventilador de teto
e as pastilhas do vaporizador anti-inseto...

Por que troco impulsivamente os canais até parar num filme
que eu acabo nunca vendo o começo ou o fim...

Por que ultimamente se tenho sorte, sou eu, a toalha áspera
e as garrafas de água do frigobar barulhento...

Do outro lado da janela suja
o trânsito da avenida que só dá um tempo depois das duas...

E amanhã a continuação do jogo
com suas tristes consequências...

Começo sempre minhas histórias com capitulares lindas
só para interromper tudo de uma hora para outra
e pular de um ponto ao outro das reticências...

sexta-feira, 13 de março de 2009

AEROPORTOS E NUVENS

Dou com os olhos na curva do arco-íris...
E minhas nuvens escuras tomam conta do céu
às seis da manhã...

As notícias de hoje são as mesmas de ontem
e a FM do rádio enche o ar com o outono de Vivaldi
enquanto tomo café.

O cheiro de chuva é mais forte que o de pão de queijo
e as portas não dão passagem
quando me tranco e a lentidão me domina.

O meu teto ultrapassa as montanhas
onde há canções de ninar diferentes
e os dançarinos não trocam de par a noite inteira...

Tenho aeroportos sem teto para decolagem...
... a cabeça nas nuvens e uma queda devastadora.

Minha tristeza não cabe nem num hangar...
E minha rara alegria se confunde com a tolice dos outros.

A realidade é um delírio cheio de rompante.
E as pessoas precisam aprender
que não se alcança uma estrela
apenas esticando o braço.

As perspectivas certas são todas improváveis,
e ao meu redor montam arquibancadas móveis
para assistir esse meu espetáculo de um homem com medo...

Eu e as minhas sensações frágeis;
meus joelhos gastos de tanto me desculpar
por uma obra-prima inacabada...