sexta-feira, 29 de maio de 2009

BUDAPESTE

BUDAPESTE

Ver a Vanda correr os olhos sobre as minhas letras, esboçar um sorriso, apreciar um texto meu sem saber que o era, seria quase como vê-la se despir sem saber que eu a estava olhando.

[ Chico Buarque – Budapeste p. 103 ]

 

Desde segunda que eu tenho corrido meus olhos sobre as letras do Chico e sua narrativa, absurdamente poética.

            "Budapeste" é um desses romances que já, em meio a leitura, mesmo estando a dezenas de páginas do ponto final, já se é capaz de elevar a categoria de livro favorito. Quem dissesse isso não estaria cometendo nenhum desatino. E nem seria um arroubo de entusiasmo injustificado. No meu caso posso dizer tranquilamente que já o coloquei em destaque na minha lista de essenciais.

A frase acima é poesia em prosa. E eu poderia dizer que nesse livro há centenas delas. Todas do mesmo naipe. Quase gêmeas. Palavras aproximadas pela força da leveza e do ritmo. Quase um livro para ser cantarolado.

O José Costa, A Vanda, o filho deles. A Kriska, o filho dela. O Álvaro, o alemão da biografia, os rapazes do escritório. O calor e a pouca roupa da orla do Rio. O gorro e o casaco pesado do frio de Budapeste. A apresentadora de TV daqui que é a própria mulher. E a mulher que fala em húngaro ininteligível na TV de lá. Tudo é assim e assado. Tudo rigorosamente tim-tim por tim-tim. Despretensioso e sofisticado na riqueza de detalhes. E de um jeito que  dá vontade de ler e reler e de continuar lendo sem parar.

É um livro que fala de um livro. Que passa do afastamento lento de uma para a aproximação rápida de outra. Aborda a agitação de viver estando em evidência para a monotonia de experimentar o anonimato. É rápido e lento

Vá portanto! Corra seus olhos sobre Budapeste. Solte-se. Imagine e imagine-se. Talvez ele entre por seus olhos e fique para sempre em suas lembranças de um belo livro para quem gosta de inteligência, de boas frases e de poesia.

terça-feira, 19 de maio de 2009

DÉCADA

Eu vi o meu velho amigo

com seus pensamentos mágicos:

- Ah! se eu tivesse cem mil na conta

e dez anos menos!

 

Ele soltou um suspiro,

esboçou um sorriso

e saiu andando.

 

Ele e seus pensamentos em voz alta...

Mulheres lindas a seu lado

e boletos bancários atrasados

na pasta de couro surrado.

 

Eu, minutos depois do seu abraço 

fiquei pelo meio do corredor. 

Não rápido o bastante

para dizer que se tivesse mais grana...

ainda seria o que sou:

 

- Dez anos mais moço,

cheio de sonhos e distrações...

Sem as cicatrizes que tenho hoje;

e nem dez por cento

do que posso ser para mim

ou para quem abre

as minhas torneiras.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

POR UM FIO

Tanto...
está tudo sempre por um fio;
quanto há "vazios"
que não resistem a uma olhada bem de perto...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

LIVROS, TELEVISÃO E EU NO MEU CANTO

Aqui estou.

Sem grife.

Apenas simples

e inteiramente comum.

 

Como estou eu combino

com a última poltrona

do último vagão.

E gosto de não ser notado.

 

Sou o que sou

e tenho um punhado de estilos diferentes.

Sinto uma irreprimível vontade

de não carregar rótulos

e de ser eu mesmo...

 

Os meus olhos aceitam James Joyce

Jane Austen, Dan Brown...

 

E não me preocupo nenhum pouco

se alguém me ver por aí

lendo algum livro da série Harlequim...

 

É que eu sou assim

e não paro muito para pensar.

Se a diversidade existe

eu quero saber experimentar!

 

Por que fui ficando assim

de tantas sextas de Globo Repórter

que falam de dietas, chás milagrosos, e bichinhos...

 

Eu trocando os canais para me safar

e encontrando programas tão desinteressantes quanto.

 

Passando por todos os canais

um sem número de vezes...

E terminando sempre em frente

de um filme que já está lá pela metade.

 

Os noticiários se repetindo.

As profundezas dos oceanos

cheias de formas estranhas de vida...

E eu chegando à conclusão fácil

que as montanhas do Himalaia

não são tão bonitas quanto as de Teresópolis.

Não por que não sejam de fato.

Mas mais por que eu só conheço as de Teresópolis.

 

E assim, quanto mais eu vejo TV,

mais eu sei que a vida em condições extremas

de quem mora no ártico

não é mais difícil que a dos catadores de papel.

 

É que eu moro aqui dentro de mim

e meus oceanos são outros.

- Muito mais profundos e salgados...

 

Por que toda lágrima

fica mais salgada

quando escorre até chegar nos lábios.

 

E faz muito tempo

que a minha vida já passou da metade.

E a diferença

é que agora eu sinto!

 

E as notícias da minha vida

são as que merecem a minha total atenção!