quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

O VAZIO... E O VAZIO DECIFRADO...

O VAZIO...
Vazio
é esse espaço todo que me cerca...
Como se todas as grandes sensações
fossem insuficientes para atenuar a saudade que sinto...
As portas continuam nos mesmos endereços...
Mas alguém sumiu com as minhas chaves...
Estranha essa coisa próxima que se distancia...
Essa madrugada fria em plena luz do dia...
Essa coisa de estar a centímetros perto do meio-dia,
e a quilômetros no fim da tarde...
Essa coisa de sonhar ficar junto que quando não acontece
deixa tudo muito confuso...
Triste ter milhões de coisas importantes para dizer;
e a menos de um metro dois ouvidos totalmente obtusos...
Então o olho que ri na frente dos outros
é o mesmo que chora de noite quando está sozinho...
Porque o mundo das lojas e das avenidas distrai;
mas o das madrugadas sem sono
é o da ficha que finalmente cai...

O VAZIO DECIFRADO...

A respeito do poema "Vazio", eu preciso dizer que só é vazio no nome. Na verdade, de vazio ele não tem nada. Está mesmo é repleto. Cheio de coisas que nem eu sei dizer exatamente o que senti quando as frases nasceram. Foi um poema breve, ambientado numa manhã enquanto tudo estava parado na minha mesa. E, no meu caso, na ausência de ter o que fazer, eu sempre tenho muito o que pensar.

As situações e os lugares que me cercam são os mais comuns. Daí as palavras associando o que penso e o que eu sinto a essas coisas comuns como lojas e avenidas... Mas hoje eu posso acrescentar algo mais ao vazio daquele poema de uns meses atrás. É um vazio que me incomoda. Um vazio que me enche nos dois sentidos em que é possível dizer que se está cheio de alguma coisa. O vazio que me lota de pensamentos complexos e conflitantes e que, também, é um vazio que me enche; e irrita.

É como se eu na verdade estivesse dizendo que estou aqui. Que as lojas estão com seus corredores abarrotados de gente. Que o trânsito nas avenidas das grandes cidades é entediante depois das dezoito horas. Mas que eu, muitas vezes, nesses mesmos corredores, nessas mesmas vias, me sinto como se estivesse cercado de solidão. Como se estivesse parado na frente de uma porta e tivesse no bolso um chaveiro com dezenas de chaves; mas, ao mesmo tempo, tendo a certeza de não possuir a chave certa, por que alguém por algum medo ou temor trocou o segredo da fechadura sem eu saber.

Na verdade ter lugares comuns para expressar sentimentos é o mais real e próximo do que eu faço aqui quando me paro a escrever. Alguém pode estar na minha frente, ao telefone comigo e jamais desconfiar que o cara que está sempre rindo, nem sempre é só sorrisos e gargalhadas todo tempo. São lugares comuns; cenas comuns; e uma pessoa como qualquer outra. De repente essas coisas saem da minha cabeça para ocupar um espaço num papel ou num e-mail.

Posso acrescentar, que entendo perfeitamente dos sentimentos e das emoções que me motivaram a escrever. E essa poesia pode ficar para sempre, ou pelo menos por algum tempo, como uma espécie de fotografia de minha alma e de meus sentimentos. Até os incompreendidos e os que nunca poderão ser correspondidos!

( Inverno de 2007 )

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

LIXEIRA

A lixeira do escritor perfeccionista

está sempre cheia de idéias muito boas;

mas todas,

rigorosamente todas,

- amassadas!

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

VIVO

Vivo
E passo muito bem despercebido
Entre erros que não podem ser apagados
E coisas que eu repetiria
Mesmo que fosse melhor ter evitado...

Há coisas que não são tão boas no fim
E que depois que passam
Nos deixam sozinhos no meio de um enorme deserto...

Mas essas mesmas coisas
Fazem tão bem enquanto duram
Por que mesmo os solitários gostam de períodos
Com alguém por perto...

Devia haver um jeito de repetir tudo que se teve e que se perdeu
Por que eu repetiria indefinidamente
Cada detalhe do que aconteceu...

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

CHÁ DE BOLDO OU CAPUCCINO

Só sei que meu jeito surpreende!

Às vezes convida.
Às vezes assusta.

Num dia posso estar no “um e noventa e nove”;
em outros na Macy´s da rua 34.

Num dia meus pés podem estar na calçada da fama;
ou pisando algum tapete vermelho.
Em outros eu posso estar botando os pés pelas mãos;
ou com o rosto vermelho de vergonha.

Minhas ações podem ser previsíveis,
mas eu mesmo não sou.

E já que me pediu para esquecer o assunto
eu vou fazer de conta que já nem lembro mais.

Por que minhas reações podem ser estranhas,
mas eu mesmo nunca bato de frente...

E agora tente descobrir
se eu hoje amanheci capuccino,
ou se o resto do dia vou ter gosto de boldo...

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

MODERNO

Minha tristeza tem TV a cabo,
celular blue tooth,
e toma banho de shopping!

Alterna dias de banda larga
com outros de wireless com sinal fraco...

É que meu jeito de sofrer é moderno
e meu abatimento só não é maior que a Microsoft.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

PEQUENAS COISAS

Nenhuma escola me influenciou tanto quanto eu mesmo.
E o que sou, só eu entendo parcialmente.

Eu mal e mal me aceito
e quando entro em casa para dormir
algo de mim fica do lado de fora.

Sou formado milimetricamente
por milhares de lascas de pedras coloridas.
E chamo a atenção pelo brilho e a ausência de emendas...

Mesmo assim eu sou inteiro mesmo pela metade.
E reconheço a necessidade
de ultrapassar o meu próprio “commeso”...

E para sobreviver apesar da falta de estilo
eu crio oceanos, escrevo céus e mais céus
de idéias obscuras manuscritas em nuvens claras de algodão doce...

Trato das alergias com cartão de débito.
Persigo alegrias que compro no cartão de crédito.

As melhores sensações vão se tornando raras...
Tão incomuns no meu caso quanto comprar roupas caras...

Então dou a cara para bater
E o meu sorriso que é sempre para valer...
ganha o dia com qualquer pequena coisa que emociona!

Um gol,
Um orgasmo,
Uma frase inteligente...
Uma cesta de três pontos...

O vale lindo do ponto de vista lá do belvedere...
Uma estrada cheia de curvas que se distancia...
Às seis da manhã uma noite que termina ou um dia que inicia...

Um mergulho gelado num rio de cachoeira...
Um olhar de mulher que eu quase tinha esquecido!

Um sorriso de criança ou de uma velhinha!

Uma vitrine cheia de novidades eletrônicas
ou um sebo cheio dos livros que foram de outros donos.

Então eu posso até perder a linha.
Mas percebo, enfim, que a vida está longe de chegar ao fim da linha!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

LIVRE

Quero ser livre
para poder ir e vir...

Ter o tempo que andava faltando
para parar nos lugares mais bonitos...

Deixar de andar cabisbaixo
por que é preciso saber olhar para os lados...

Perceber os detalhes.
Sacar as sutilezas que há em tudo...

Quero voltar a abrir os braços
e dançar na rua
numa tarde de chuva.

Quero lembrar que a sombra gostosa
e o calor de quarenta graus convivem lado a lado...

Que é só uma questão de escolher a sombra
e não morrer de sede por dentro!

Então o sorriso que eu sempre tive
mas que andou escondido
poderá mostrar de novo o que eu tenho de bom...

Pode ser que alguém repare
ao parar um pouco nos lugares mais bonitos.

Será a senha de acesso para voltar
ao que eu sei que existe
mas que andava meio sem paciência de procurar...

E então pode ser
que volte o tempo dos abraços...
E a criança em mim desperte!
E o homem em mim prevaleça!

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

UMA PAUSA

Quando não há dinheiro pra nada
é que eu consigo ver
o que há nos lados da estrada...

Montanhas, sol e ar puro
gargalhadas e quebras de protocolo.
Menos tempo com o Laptop;
mais tempo com a filha no colo.

Por que a vida é mais interessante
quando se consegue frear mais do que acelerar...

Então se pode aceitar perder por um lado;
pra lá na frente ser mais feliz...

Por que qualquer coisa que se quer ganhar
fica muito melhor quando se consegue dar...

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

O QUARTO 217










O sorriso no rosto da atriz que escreve,
na foto da revista,
no pôster da parede do quarto do poeta,
é sempre o mesmo.

Mário Quintana já não escreve.
O quarto 217 tem uma parede de vidro.
E ali perto, na Caldas Júnior, um programa de esportes
no estúdio cristal da Rádio AM tem “telespectadores”!

Os objetos pararam no tempo na saída da escada à esquerda...
- Segundo andar infinito...

Descansa Elis num dos quartos ao lado.
Crianças e professoras.
Cheiro de café pelos corredores;
e trilhas de filmes cerebrais
de cineastas europeus desconhecidos
nas salas de cinema...

E no mundo dos observadores que só podem sentir saudade:
Um copo Nadir Figueiredo com um último gole de café.
Um metro entre o quindim amarelo
e o amarelado “Correio do Povo”.
Uma garrafa de água Sarandi intacta.
Uma poesia à lápis, que sobreviveu
a bolas e mais bolas de papel amassado.
E um velho par de óculos abandonado!

Predomina a penumbra! A velha TV desligada.
A miniatura do bonde. A cama revirada.
A mini estande e seus poucos livros.

Mas é ímpar o fim de tarde!
Chaplin Dorme! Greta Garbo é linda!
Bruna não envelhece!
E Mário, mesmo tendo ido embora;
prevalece.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

OS CELULARES NO SILENCIOSO

A inspiração me pegou pela mão;
me trouxe aqui de um jeito tão leve que eu quase nem vi.

Mas meu texto fluiu até certo ponto, depois empacou...
Como se a minha capacidade de dizer qualquer coisa
tivesse entrado em greve!

Daqui eu não saio. Daqui eu não passo.
Daqui eu não saio. Daqui eu não passo.

É tanta frase que eu começo e que fica pela metade;
tanto papel que eu amasso;
que quase só o que restou... foi parar...
- pelo menos por hoje!

E a idéia que eu persigo tanto,
talvez seja a do conto
que depois de ter lido milhões de vezes
eu ainda aumentei um ponto...

Por que precisava me manter trancado dentro do quarto
mesmo sendo visto nos lugares...

Por que precisava me manter calado e solitário
mesmo tendo de andar por aí com dois celulares...

sábado, 4 de outubro de 2008

ELE ERA O CARA!

Muito esperto. Comunicativo. Animado. Todos sempre queriam jogar bola com ele, jantar com ele, ir ao cinema com ele, gritar gol ou xingar o juiz junto com ele. Até ficar sem fazer nada, desde que fosse “fazer nada” junto com ele. Era desses que toda mãe queria para genro. E que toda filha da mãe queria ficar, namorar ou mesmo casar. Tinha uns olhos azuis de parar o trânsito e, como se isso tudo fosse muito pouco, ainda mandava flores para as namoradas.

Nem precisa dizer. Mas a mulherada ficava louca com ele. Uma querendo agradar. A outra querendo chamar a atenção. Uma jogando um charme danado. A outra largando uma piadinha. Era sempre assim. Ele sempre tinha flores para mandar para a sua escolhida. E seu celular tocava tanto que chegava a irritar.

Mas num dia infeliz, o carro do amigo de infância com quem ele foi para a balada bateu de frente numa árvore. Uma figueira centenária. O carro vinha a uma velocidade bem razoável. A árvore ficou intacta. O carro amassou. Bem daquele jeito que o poeta faz com o papel quando a primeira frase não nasce de parto normal.

Não foi só isso. O amigo morreu. Ele teve diversas fraturas e perdeu um dos inconfundíveis olhos azuis. Depois de meses de molho e algumas cirurgias ele voltou a trabalhar. Meio traumatizado, assustado e com pouco amor próprio.

Passou a ser visto na rua e nos lugares só de óculos escuros. Veio a depressão. E com a depressão a perda do carisma; do romantismo e de muitas outras coisas mais. Nem parecia mais o mesmo. Deixou de ser o cara!

Nunca mais ficou em evidência e se transformou numa pessoa amarga, desinteressante e solitária. No fim ninguém se importava muito com o que aconteceu. Ao natural todos se afastaram. As mulheres sumiram. E a única coisa boa é que ele passou a economizar muito dinheiro por que não havia mais ninguém para mandar flores.

Moral da História:

Os relacionamentos entre as pessoas andam tão artificiais que, se a gente deixa de dar para ou outros o que eles esperam receber, eles simplesmente se afastam.

Se não podemos mais dar o que elas querem então nós não servimos para nada. Nos transformamos em objetos inúteis jogados numa caixa de arquivo morto ou um porão empoeirado. Somos esquecidos, desprezados e totalmente desrespeitados. E tanto faz, tanto fez. Ninguém nem nota que sempre estamos de óculos de sol.

E é nessa hora em que deixamos de ser o cara para os outros por que não temos mais nada para dar para eles que nos entristecemos de chegar à conclusão que, muitas vezes, as pessoas não estão com a gente pelo que nós somos, mas sim pelo que nós temos.

É assim que funciona! É assim que não deveria ser a vida. Mas é assim que ela é!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

AOS QUARENTA

A vida fica curta demais quando não se sai mais de casa.
Quando se chega aos quarenta
e os rostos bonitos e os lindos dias de sol
são só os da TV.

É patético e completamente sem sentido
contar a verdade e ter de ler mentiras na tela de LCD.

Então sou grande demais
para esse universo tão restrito.
Como se minha água limpa preenchesse
todo espaço frio do aquário redondo...
E meu nado sem nada e sem sentido
escondesse o peixe colorido que sou, mas solitário.

Então tenho pena de mim!
Por que é só uma questão de tempo até o próximo vexame!
Um piscar de olhos descontrolado;
um sorriso maroto e mais uma decepção!

E segue a vida como se eu não vivesse.
Nada muito diferente de ir dormir sozinho,
sonhar bobagens
e acordar de manhã sem ter o que fazer!

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

UM POUCO MAIS DE APATIA

Eu vi as pontes de Madison
e os bondes de Melbourne...
Filmes repletos de estrelas
e eu sempre em papéis coadjuvantes!

Tenho uma idéia brilhante a cada dois anos;
e um shopping de planos certos
que desaparecem tortos!

É duro inspirar ar
e encher os pulmões com cheiro de roupa guardada...
E, muito pior, é não saber a diferença
entre “Buenos” e “Venâncio” Aires...

A criança olha e ri dos meus pés
- uma meia de cada cor!

E eu me olho no espelho
e me esqueço em seguida de quem eu sou...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

PELO CAMINHO DOS PLÁTANOS

Eu não saberia dizer quem sou hoje.
Se do primeiro dia até ontem eu simplesmente fiz o que qualquer um faria.
Eu mesmo não me conheço.
E me comporto como estranho na frente do espelho!

Sem méritos. Sem perspectivas. Cheio de teorias e atos falhos.
Uma dessas pessoas que às vezes se esconde de si mesmo...
Que fica ensaiando o que vai dizer, mas que na hora nunca diz...

O que sou veio da mão aberta que só queria fazer um carinho
mas que ficou só no aceno na hora do adeus.
O que me tornei veio do sorriso certo para a pessoa errada,
num dia desses que não precisava ter acontecido.

Eu poderia ter ido pelos melhores asfaltos
mas terminei empoeirado de só me arrastar por estradas esburacadas.
Se sou hoje o que sou é por que ouvi determinadas músicas;
por que li determinados livros; por que convivi com determinadas pessoas;
por que fui em determinadas direções e não em outras...

E se fossem outros ritmos? Outras melodias?
Que outras caras teria a sucessão dos dias?
Se fossem outras rimas? Outros autores?
E se eu preferisse os suaves rumores ao invés dos falsos pudores?
E se as pessoas fossem diferentes? Quem eu seria? Onde de fato eu estaria?

Fiquei desse jeito por que mantive a pose quando era hora de ir atrás dos sonhos...
Por que escolhi o caminho dos plátanos...
e não percebi que haviam ipês e cerejeiras por todo lado...

Então eu não teria nenhum sentimento de desperdício.
E teria uma loja de vender sorrisos!

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

EU SEI

Tua partida arrancou
um gemido involuntário do meu coração.

Eu me tornei muito bom, desde então,
em chorar lágrimas no escuro;
numa melodia quieta de silêncio e dor.

É um choro arrastado;
enfadonho!
Lamentação que se repete!
Ninguém vê.
Mas eu sei..."

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

DESTOO

Tudo que me surpreende
tem essa coisa louca
de eu querer mais
e de novo
e muito, muito mais...

Prefiro os toques suaves, gostosos...
quando nove entre dez
agarram com força!

Prefiro que me agarrem...
quando nove entre dez
ficam naquela de pontinha de dedo!

Prefiro que falem
quando nove entre dez emudecem...

E que não digam nada
quando nove entre dez expressam...

Procuro esse “um”...

sábado, 2 de agosto de 2008

OUTRAS PORTAS

"...Triste de quem padece
dessa doença da falta de coragem,
num mundo em que só se faz o que se quer...

Mas o que não se quer
bem que podia ser ao menos dito...
Para não demonstrar essa frieza
que não tem nada de bonito...
E ter, no mínimo, um pouquinho de classe...

Mesmo assim tenho sorrisos de sobra em meu rosto
- que é o que importa...
Deixo os esnobes saberem o que penso!
Abro outras portas
que, do outro lado, escondem o melhor caminho...

O do olhar nos olhos...
E não o de virar as costas..."

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

MERGULHO

"Pulei no teu Rio...
Um mergulho sem volta
em águas turvas e inquietas...

Abri meu olhos
e só vi temeridades e dúvidas
incertezas e silêncio...

Só podia dar no que deu...
- morte por afogamento!!!"

quarta-feira, 30 de julho de 2008

SOL E LUA

Eu tenho em meu céu, um sol forte que fala comigo...
Ele no universo intocável, inatingível
e eu aqui em sua órbita entre medos, árvores
e gente que eu posso ver...

Receio que as coisas certas que ele me diz com seu calor
nem sempre sou suficientemente lúcido para entender...

A sua maneira de me aquecer é a mais branda...
É a mais calma... e a que é possível...
É a que minha pele e alma agüentam...

Não sei por que penso coisas assim tão desconexas e impossíveis!
E nem por que me comporto tão confuso e injustificável...

Talvez eu esteja para sempre
confinado a nunca ultrapassar a barreira do anonimato...
Acostumado a ir dormir pensativo
para, pelo menos, acordar vivo...

Mas eu deveria entender que sol e lua nunca se encontram
e que a vida não deve ser um constante pedido de desculpas...

Eu deveria saber que a magia do sol e da lua
é que as vezes um surge no final da outra
e a outra surge discreta ao final do um...

E sempre “um não vive sem o outro”...
Ambos tem seus espaços vazios de luz
que só o outro pode preencher
com qualquer pequena coisa surpreendente...

Enquanto um tenta se tornar sombrio
vem o outro e acaba com a desordem...

Trinta segundos para a amargura se transformar em sorriso...
E a vida seguir nem sempre do jeito que se pensa...

Graças aos quadradinhos de “Diamante Negro”
aos goles de “Smirnoff Ice”
e a contínua busca da frase perfeita..."

segunda-feira, 21 de julho de 2008

ENTARDECER DE CHOCOLATE

"Eu via a tatuagem
nas costas da moça do arraial...

Contornos e traços;
letras e flores
de um desconhecido enigma tribal...

Ela olhou para mim
com seu sorriso doce de chocolate...

Eu na hora tremi.
Esqueci o dourado e o som das ondas
do entardecer na praia,
para olhar só em sua direção...

Pensei no que poderia dizer
ao me aproximar...

Mas uma súbita confusão
deixou meus pensamentos
mais velozes que a capacidade de falar...

Pensei uma bobagem...
- que nem o arraial d’ajuda poderia ajudar!

E a única coisa que eu queria
era ser capaz de dizer...

Que posso tatuar palavras para sempre
em corações
em páginas de word
em folhas soltas
e guardanapos de papel...

E a leveza que percorreu meu corpo
me levou, num segundo,
do fim do poço às nuvens do céu...

O que dizer sem parecer bobo?

Que pessoas que nunca se viram antes
podem conciliar suas procuras...

Podem um dia cruzar o olhar na beira da praia
e sair depois andando de mãos dadas...

E que esse momento
é daqueles que são para ser guardados para sempre
em lindas caixas de recordações decoradas... "

( Esse é um poema nascido numa manhã de outono. Uma quarta-feira. Poema quase escrito por duas mãos. Inspiração louca. E não importa se a história aconteceu em meio a uma mudança. Ou se nem aconteceu! Só sei que saíam caminhões e mais caminhões com caixas e mais caixas de pensamentos gerados em algum lugar entre Goiás, Bahia e Rio Grande do Sul. Esclareço. Isso não foi um sonho. Apenas uma dessas situações improváveis que inesperadamente se tornam possíveis. E o nome do lugar é "onde nascem todos os enigmas.")