terça-feira, 27 de julho de 2010

MARCAS DE BORRACHA FRITA

sou estrada

com queda de barreira;

estante

cheia de poeira...

 

asfalto

com marca de borracha;

cheiro de papel novo...

 

estou aqui mostrando a cara

mas queria

ser um no meio do povo...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

SILÊNCIOS E GRITOS

a película fina

que separa o silêncio do grito

é de vidro  

 

há um espelho embaçado

no vapor do banheiro

que mostra e esconde

a imensidão do nada

 

entre o que eu digo

e o que me cala

passa um rio de riso

outro de espanto

 

e o que eu tenho pra dizer

não sei se escrevo ou canto

 

se o que sinto é só meu

e combina com poesia

ou se é para sair alardeando

quase uma gritaria

 

por que esse rio de riso

chega sem fazer alarido

e o outro cheio de espanto

consegue dizer ou calar

o que eu não consigo

terça-feira, 13 de julho de 2010

CULPAS, GOLES DE VINHO E PARAFUSOS

saio para a caminhada
com o peso das culpas
que torna difícil o exercício

um vício de sofrer que deixa rasto
espécie de suplício
gado no pasto 

saio com os fardos lotados
mil erros nos bolsos
mil euros rasgados

saio com dardos envenenados
silêncio que amedronta
sobriedade que aos goles de vinho
sucumbe tonta

eu posso dar choque
eu quero um toque

eu posso ficar vestido
ou sair nu a reboque

eu posso roubar um parafuso
da Torre Eiffel
pra compensar o que tenho de menos

quarta-feira, 7 de julho de 2010

DOR

não sei
não sei
a dor por aqui entrou
e fincou raízes tão fundo
que começo a pensar
que ela já me conhecia por dentro

por aqui chegou
e agora não termino
nem o que imagino

é que dor é dor
em euforia
ou aflição

é que dor é dor
e não faz diferença
se é em silêncio
ou num grito
na hora de pedir socorro

e eu estou pedindo

pedindo
o que nem eu tenho pra dar

e o que estou pedindo
eu sei
e não sei

nem vale a pena tentar
apaziguar

( NOTA 1: Para ser lido em voz alta, num ritmo lento tentando sentir a força e a cumplicidade das palavras. )

( NOTA 2: Também pode ser lido em voz alta, num ritmo lento tentando sentir as palavras com a música "Diz que fui por aí – composição de Zé Kéti  e Hortêncio Rocha na interpretação de Fernanda Takai" tocando ao fundo. Coloquei um link logo abaixo da letra dessa música com um clipe intrigante de imagens brilhantes e distorcidas que se assemelham ao que não sabemos explicar quando sentimos dor.)