sexta-feira, 30 de outubro de 2009

NEVOEIROS E ESTIAGENS



Ando de arrasto,
esgotado de tanto carregar
fardo dos outros
e pedra nos meus sapatos.

É que meus sonhos,
delirantes e grandiloquentes,
ficaram agora,
ou do tamanho certo,
ou pelo menos mais sensatos...

Aprendi que é preciso aprender
a contornar pequenas crises
sem precisar me perder em grandes aparatos...

Por que a vida de verdade
não é de meias verdades
e o que é, é mesmo, e é
e não há espaço para boatos...

Se meu céu tem nuvens
elas estão todas estiadas...
E muito embora
eu pense que saiba tudo
os meus medos não me permitem nada...

Sigo entre nevoeiros
que me deixam
sem teto para pousos
e decolagens...

Eu e a bagagem de mão,
velhas cartas e fotos
e um mapa para encontrar um amor
ao final das viagens...

E então o frio que sinto,
se pode ser atenuado ou não,
vai depender muito
da qualidade das lenhas
que eu botar para queimar;
ou de quem nesse ponto da vida se aproxime
e arrisque me acompanhar!


[ FOTO: AMANDA FONSECA – Setembro de 2009, no Campo de Santana, no Rio de Janeiro, estátua em mármore "Inverno", de autoria de Paul Jean Baptist Gasg. Clique com o lado direito do mouse na foto e abra em outra janela para observar melhor todos os detalhes.
No inicio de setembro eu e minha amiga fotógrafa Amanda Fonseca, combinamos fazer algumas coisas juntos. Surgiu a idéia de eu entrar com as palavras e ela com as imagens. Uma coisa do tipo Tom e Vinícius. Nada a ver com Tom e Jerry. Rsrsrs
Então nosso primeiro trabalho em conjunto foi publicado aqui no meu blog em 14 de setembro de 2009, sob o título: “O ouro do sol de Amanda”. Na oportunidade a minha poesia nasceu para descrever o lindo pôr-do-sol que ela me mandou por e-mail.
Agora, nesse “Nevoeiros e estiagens”, invertemos as coisas. Eu mandei a poesia por e-mail, que permaneceu inédita até que Amanda colocasse a imagem. No poema eu falo de meus desconfortos. Falo do frio que sinto e de meu céu de nuvens em tempos de total estiagem. Na foto, Amanda nos mostra o instrospectivo senhor inverno no meio de uma paisagem escurecida.
VEJA OUTRAS FOTOS DE AMANDA FONSECA EM:
http://www.panoramio.com/user/2100668.]

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A VOZ DO SILÊNCIO

A minha voz quando sai
sai do fundo...
Por que no meu mundo
os fonemas têm um caso de amor com o silêncio!

Por que o que eu sou
para mim mesmo é segredo...
E posso alternar uma pose de valente
com uma reação de típico medo...

A dor do meu poema dói
por que sou inquieto...
E por que de nada adianta ter sonhos lindos
que nunca passam do teto...

Por que meu reflexo no espelho
é o de um cara complicado...
Muito embora, de fora,
eu pareça decifrado...

Por que eu sou eu todas às vezes,
mas quem não me vê há meses
pode se confundir...

Por que meus pensamentos ficam
quando deviam ser exorcizados...
E sou esquecidiço
quando devia agir como o planejado...

Por que passo dias sem ser visto
e me escondo no fundo do mundo;
e experimento o ponto de vista
da última fileira...
E é de lá que eu espero que percebam
que sou eu cavando trincheiras
para me proteger...

E é de lá que eu quero que me ouçam
sem que me ouçam gritar...
Pois quando eu estiver em silêncio;
os demais silêncios devem se calar...

terça-feira, 6 de outubro de 2009

DOR

Depois da explosão produzida pelo frio adeus,
os sentimentos estão vivos
mas respiram por aparelhos...

O que foi dito magoou e esmaga tanto
que ninguém pode saber,
se o que está esparramado para todo o lado,
são os sentimentos partidos
ou as vigas retorcidas dos sonhos em ruínas.

Há uma aflitiva procura por respostas.
Mas todas as linhas estão cruzadas.
Há uma última busca por compreensão.
Mas todas as conexões estão tão absurdamente lentas;
como se não houvesse mais lugares
nos ônibus que levam as perguntas até o destino...

Como se as vias rápidas por onde eles seguem
tivessem se tornado estradas de terra impraticáveis...

Como se meus sorrisos que eram como águas termas
tivessem agora a consistência dura de gelados icebergs.

Como se no lugar onde as perplexidades me invadem
só existissem músicas tristes de lágrimas,
para o acompanhamento macio dos lenços de pano
com uma misteriosa letra inicial que eu reconheço...

Tristeza é assim!
Pode acabar na dúzia de lenços de pano...
Ou se a instabilidade durar mais que o esperado
pode precisar de caixas e mais caixas de kleenex...

Ainda assim a pergunta que martela
pode acordar no meio da madrugada
e exigir uma resposta:
- Como sair de um jeito definitivo
se não se sabe ainda
se o próximo segundo
trará um grito de desespero
ou um silêncio angustiante?

Sair de quem se adora é assim.
Tão atordoante e inesperado
quanto ouvir explodir uma bomba e ficar sentado...

É estranho precisar arrancar árvores sem deixar raízes;
sair pela porta sem levar uma cópia das chaves...

É como passar uma noite linda batendo palmas
e acordar de manhã algemado...

E como amanhecer com um frio nas idéias,
e uma ausência nervosa de perspectiva
que pode durar meses, anos ou para sempre!

Ou que amanhã pode amanhecer com sensação de alívio!