sábado, 29 de agosto de 2009

MATILHA

Os grandes cães da matilha humana
estão por aí latindo...

E deve ser por isso
que eu, às vezes, só ouço os gritos da ganância...

As vozes da cobiça,
do oportunismo e do orgulho batem nos prédios...
As do ciúme e da inveja nos tédios...

E voltam ecos de um mundo cheio de submundos
em que os sonhos vão se esvaindo...

Um mundo cheio de imundos
em que as pessoas que deviam ser próximas
vão cada vez mais distanciando...

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

RECIDIVA

Nasci de um sono conturbado
de um coração alagado
e um sentimento que já não se segura mais!

Minha biografia tem páginas em branco
que coincidem com os dissabores
de uma época de silêncios mortais...

Fico triste que o mundo que eu tento pintar
tem escala de cores própria.

É ele lá na dele e eu aqui na minha!
Eu conteúdo e ele rótulo,
mas sempre uma embalagem entre nós...
Eu aterrissando enquanto ele decola...
Ele calando e eu gritando até ficar sem voz.

É quase como se a melhor das telas
fosse o pano da camisa preta que me deixa bonito,
mas que quando eu uso ninguém vê.

Sofro de imaginação galopante
que não cabe em si e nem aceita limites
mas que por vezes fica restrita
ao espaço e o tempo de um grito no travesseiro.

Por que eu saio de casa para sentir o vento.
E quando não estou batendo perna
é meu tempo de cravar os cotovelos
num muro de angústias...

Estranho que no sonho aquela mulher sem rosto
não tinha mesmo rosto
mas eu percebi em meio segundo
que era tragada por tristeza excessiva!

Eu acordei com um sorriso amarelo no rosto
por que agora quando eu rio é de nervoso
e toda simples recaída, no meu caso, é preocupante recidiva.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O CORAÇÃO QUE SOFRE E SUAS LÁGRIMAS GUARDADAS EM COFRE

Quando o coração chora;

chora mesmo e pra valer...


Chora fora de hora,

chora fora de área,

e agora...


Soluça lágrimas secas,

solitárias-secretas,

intrínsecas-ensimesmadas,

caladas-discretas...

Soluça falta de soluções!

Por que desde a idade da pedra

ele tem estado numa página ímpar

enquanto seus olhos donos procuram um par.


São oito espessas camadas de concreto

aprisionando refratário coração

pelos cimentos, arames e ferros

da falta de emoção...


Seria eu aqui um Buendía

transformando as moedas dos meus sentimentos

em trabalhados peixinhos dourados de torpor?


Ou seria eu um novo "Giramundo Sabino"

que desaprendeu o amor?


Sem respostas
vou pela sombra repetindo experiências "Casablancas"
com o coração rarefeito
e cheio de sonhos que "E o vento levou..."?

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

UM HOMEM QUE SE ESCONDE NA CHUVA

Eu sou o homem que perdeu o nome.

O que toda segunda sai de casa para se esconder na chuva.

O homem que volta domingo para casa

carregando no bolso mais uma semana perdida...


Sinto um vazio esquisito no peito,

uma espécie de consciência aturdida!

Uma gaveta aberta nos pensamentos

e uma culpa muito grande autoatribuída...


Mas quando volto para casa

o primeiro grande susto é ver os móveis em outra posição.

Mas isso só é o bastante para eu me distrair por uns dez segundos...

No décimo primeiro eu já me livro das roupas suadas.


Enveredo o corpo pelo vapor de um banho morno demorado

e, quando acaba, vou atrás dos apitos irritantes do micro-ondas.

O estômago nas costas me faz ter a idéia de ressuscitar do gelo

a sobra de lasanha do jantar a dois que terminou em "bolo"...


Em poucos minutos devoro a porção na frente da televisão.

E, em menos de meia hora, estou entregue a um sono de sofá sem sonhos

que é interrompido pela música na hora do beijo do filme qualquer

que me acorda o corpo com o pescoço em ponto de torcicolo.


Seis da manhã vou esconder de novo o meu rosto na chuva...

Sair por aí para procurar o nome perdido...


Por que em semana de chuva intermitente

é muito mais fácil se manter anônimo na densidade do nevoeiro;

onde sobram mesquinhos e toda espécie de gente que "se acha".