quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
EFEMERIDADES
um sonho grande
pode virar
muito maior frustração
a direção do vento
pode mudar;
antes aparente segurança
depois sumária demissão
dentro de mim
um bebê chora
uma guria cora
um distinto senhor
uma hora;
no outro dia
um reles cara!
chuvas copiosas precedem
longos períodos de espera
longa estiagem
sete anos de seca
que sou capaz de pressentir
em que será preciso
muita coragem
e muita bagagem
você não entende?
então experimente sentir!
mais quatro linhas
para parar de ler
e descobrir meu mundo
de onde eu vim
agora que não sei aonde vou
terça-feira, 21 de dezembro de 2010
VESTÍGIOS INACABADOS DE MIM
param vãos "Van Goghs"
no fundo do quintal...
os terçóis rasgam;
lancinam lágrimas;
- sou mau e ando mal...
porque sorrir é quase impossível
quando não se tem motivo!
por que o imponderável me cerca
até quando estou ativo!
quando meus pés me levam
e eu não deixo vestígios...
e deixo que pensem
se estou ou não
brincando de morto e vivo!
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
CITROËNS E FUSCAS
de novíssimos citroëns;
e enferrujados fuscas...
sou feito de perdas
.. e buscas
e os gritos que eu grito
param sempre nos vidros duplos...
...sendo eu visto ou ignorado!
[ Hoje, com esse poema, alcanço uma marca. A centésima postagem. Isso não deve significar muito para ninguém, nem para mim. Mas é um bom pretexto para dizer obrigado aos novos e os leitores de sempre pela cumplicidade. Confesso que escrever essas coisas me ajuda de certa forma! Especialmente quando alguns de vocês me retornam com todo carinho e atenção. Obrigado a todos! ]
terça-feira, 23 de novembro de 2010
O QUE SOMOS?
Tantas, gostaríamos de ser e nunca seremos!
Dia após dia, um poema depois do outro
sonhamos dormindo sonhos bons
que acabam quando acordamos...
Sonhamos acordados sonhos despropositados
- pura perda de tempo!
Histórias inacabadas,
esperando a moldura da voz bonita do narrador;
histórias complicadas
pedindo novos personagens
e um pouco mais de amor...
...e sons mais limpos;
maestros para manter sob controle nossas notas;
e poetas para decifrar em versos cada vez mais concisos
o que realmente somos!
Quando é preciso tocar a vida em frente
mesmo solitários
- frutos de um fértil estado imaginário!
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
PLACA
há uma placa onde eu leio:
"PARADA OBRIGATÓRIA A 500 METROS"
[ !!! ]
e é assim
que nas vezes em que eu quase chego
sempre falta muito ainda
[ ... ]
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
POR UMA GOTA DE PERFUME NUM MAR DE DECEPÇÃO
- resistem a passagem do tempo
como as letras nos originais...
duro é quando as alegrias não duram
- efêmeras esgotam apagam
como as letras num papel de fax...
as alegrias são voláteis, evaporam
as tristezas, dissecadas ou não
esnobam imortalidade...
as tristezas vão para os litros de vidro;
- prateleiras e mais prateleiras
no acervo bizarro dos museus da alma...
e a exata definição
é que as alegrias são quase
como uma só gota de fragrância...
em contrapartida as tristezas
lotam litros, livros, oceanos
e nos provocam ânsias.
e rindo ou chorando
perdemos o sono
e o lugar no último vôo...
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
BOCEJOS, TREJEITOS E NECESSIDADES
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
CRIPTOGRAFADO
tenho tantos rabiscos...
mas tantos...
que se fosse aproximá-los...
daria um estranho quadro
de metro quadrado
de arte pré-durante-pós-moderna!
tenho tantas divagações
que me quebro
e nada me conserta...
tantas anotações estranhas nas margens
tantas vertigens e falta de imagens...
que eu seria um livro de suspense
suspenso sobre a sombra do nada...
escondido
para não dizer criptografado
eu sou assim:
além de decifrações!
assim:
aquém de interpretações
só esperando o amém
de quem nunca vem...
[ Esse poema teve origem nas reações que me percorreram ao ler o poema "Garatujas Polissêmicas" no blog Opuntia da Carla. "...nos RabISCOS reBUSCO os SENTIDOS..."
http://opuntia-cactus.blogspot.com/2010/10/garatujas-polissemicas.html ]
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
ABRAÇO
bom é o abraço
que quando acontece
nunca se sabe
quem é um
e quem é o outro
perfeito é o abraço
que quando acontece
nunca se sabe
qual dos dois
se é
os braços se amarram
os olhos se fecham
e então,
com a mesma delicadeza
dos rostos que encostam,
os corações abrasam
e o mundo grande
cabe todo
em cima dos pés
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
VINTE E UM REAIS E CINQUENTA CENTAVOS
Uma e vinte um no bar!
Música ao vivo meio Morta!
- No mínimo morna!
Eu fiz a conta
e deu um garçom
para cada 6,25 pessoas!
Na metade fumarenta e obscura,
uns vinte gatos pingados
fazem barulho...
Na metade sem fumaça,
eu, um casal de lésbicas
e um outro de sexo opostos...
Pelas paredes
as fotos desbotadas que,
assim como eu,
há muito tempo
não dizem muito...
E meu estômago, de fome,
que canta melhor que a guria,
no palco diminuto,
que pensa que canta!
Claquete sem anotações pra edição!
"Remake" do filme da minha vida
que ninguém viu, nem eu...
E o miserável repertório
rolando impune
e que é capaz de forjar duetos improváveis:
Scorpions e Alanis Morissette;
Pato Fu e Ana Carolina misturados...
Se eu fosse dar uma nota, dava zero!
Coca-Cola zero e gelo, esses sim!
- Pastel de queijo e frango a passarinho...
E, pra variar, eu antes das duas, enojado,
pagando a conta e saindo sozinho!
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
AMOR DE SAL, MUMU E YPIÓCA
como amor pra vida
o rio e o mar pra pororoca,
o sal está pra pipoca
como o mumu pra tapioca
o limão, o açúcar e o gelo
...pra ypióca
o amor está no ar
na sorte e no azar
está no fogo e no jogo
na água e na mágoa
o amor é gelo e fervura
é gosto, gastura e gostosura
é um fio de navalha
ou de cabelo
o amor é um apelo
um grito no escuro
é um ai duro e puro
o amor está no poema
e no tema
é vogal que às vezes
precisa de trema
está na moldura do quadro
na frente, atrás
desse ou daquele lado
o amor é meu, é teu
por inteiro ou pela metade
está nas vontades
das puberdades
e das maturidades
nas pontas e meios
das longitudes
e latitudes
e é alheio
às vicissitudes
[ Mumu = É como se chama doce de leite pastoso no sul do Brasil ]
quinta-feira, 2 de setembro de 2010
SONHOS AMARROTADOS
mergulhado em tristeza sem fundo
em inadequação do tamanho do mundo
procuro estrelas e só acho pontos de luz difusa
o sorriso se apaga
quando a luz das duas estrelas dos olhos se fecha
parca retórica até bonita, quando feio é quem usa
quero entrar noite adentro e sair ileso
mas com todo esse peso
a única brecha, mais veloz que flecha, se fecha...
soterrado por pensamentos estranhos
espero segundos mais lentos que passo de tartaruga
e como um paquiderme
rengueando para se safar do perigo
ostento a milésima fuga
e falo muito sem nem entender o que eu digo
não sei se são esperanças ou esperas inúteis
pego no sono com o cotovelo na mala e a mão no queixo
por dentro uma fala que insiste em gritar
mas que não deixo
e ao meu lado andando serenamente
aquele pedaço da noite de maior solidão
em que até os bêbados
e os que roubam carros já dormem
arrasto passos lentos mergulhado em tristeza
vou como se estivesse cavando buracos
no fundo de um imaginário poço
alguém me chama
parece ser do outro lado da rua
mas é a minha própria voz que eu ouço
e sei então que é hora de guardar
o vazio e a solidão dentro um do outro
e fazer como fazemos com as bolas de meia
entre as roupas da mala
ou as meias, ou as roupas se acomodando
ou simplesmente amassando
como amassados, por vezes ficam,
os lisos papéis das escrituras de posse
dos nossos sonhos adiados
que vão se amontoando...
[ NOTA: Sentei e comecei a ler. Não era uma história qualquer, era a história de uma das meninas, da série "As Meninas" da Deia do blog Rumo à escrita.
Estava lá o título “A menina e a noite - da série as Meninas - 6" me convidando para uma boa leitura. Em determinado ponto, a imagem dos minutos que se amontoam enquanto vamos esperando me fez pensar nas noites inteiras em que nos sentimos frios e vazios, a ponto de adormecer com o corpo pesado, pendendo sobre nossas malas e apenas com a noite no lugar do telhado. Na mesma hora, num comentário que deixei sobre o post, eu comentei com a Deia que aquela bela imagem, se bem explorada, daria um bom ponto de partida para uma nova poesia.
No mesmo dia ela veio aqui para me fazer um pedido. Perguntou: “porque não escreve o poema que imaginou ao ler aquela frase lá no Rumo”? Então eu reli “A menina e a noite”. Parei de novo no ponto do texto que me sugeriu as imagens e comecei a escrever.
Depois duma troca de e-mails com a Deia, eu enviei os versos acima, em primeira mão, para que ela “sentisse” a poesia. Sugeri que ela escolhesse uma imagem que casasse com a poesia e um título adequado, enfim algo da sua cabeça e que tivesse a ver com os sentimentos que a poesia despertasse nela.
Então ela escolheu essa foto fantástica que combina perfeitamente com as coisas que transitaram por minhas estranhas e escondidas avenidas quando concebi esse poema. E o título “Sonhos Amarrotados” é como uma roupa de festa cobrindo o meu poema com simplicidade e delicadeza.
Por último combinamos publicar em nossos respectivos blogs, de forma simultânea os meus versos, ao acompanhamento do título e da imagem escolhidos pela Deia. Um casamento perfeito para que vocês aproveitem e, depois, lá no Rumo à escrita ou aqui no Pelos caminhos dos plátanos deixem seus comentários."]
terça-feira, 17 de agosto de 2010
PARAFUSOS, SORVETES E TSUNAMIS
alguns apertados quase espanando
e outros que fui perdendo
por causa da trepidação da vida...
mas que bom que, de tempos em tempos
sopram tsunamis no peito
e terremotos nas pernas...
por que o sangue às vezes congela
como bolas de sorvete de passas ao rum;
e meus fios elétricos encostam tanto
que dói a boca do estômago...
mas é sempre assim
para quem se aprofunda
ultrapassa superfícies lisas
e vai ao âmago...
das questões...
é sempre assim
para quem é doce e amargo
e não exatamente compreende
todas extensões...
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
HAIKAIS DE SOLIDÃO E TRISTEZA
pela estrada
se vão todos meus medos
vão, e eu fico
já é de noite
lua acesa no céu
eu apagado
terça-feira, 27 de julho de 2010
MARCAS DE BORRACHA FRITA
sou estrada
com queda de barreira;
estante
cheia de poeira...
asfalto
com marca de borracha;
cheiro de papel novo...
estou aqui mostrando a cara
mas queria
ser um no meio do povo...
quinta-feira, 22 de julho de 2010
SILÊNCIOS E GRITOS
a película fina
que separa o silêncio do grito
é de vidro
há um espelho embaçado
no vapor do banheiro
que mostra e esconde
a imensidão do nada
entre o que eu digo
e o que me cala
passa um rio de riso
outro de espanto
e o que eu tenho pra dizer
não sei se escrevo ou canto
se o que sinto é só meu
e combina com poesia
ou se é para sair alardeando
quase uma gritaria
por que esse rio de riso
chega sem fazer alarido
e o outro cheio de espanto
consegue dizer ou calar
o que eu não consigo
terça-feira, 13 de julho de 2010
CULPAS, GOLES DE VINHO E PARAFUSOS
saio com os fardos lotados
mil erros nos bolsos
saio com dardos envenenados
quarta-feira, 7 de julho de 2010
DOR
segunda-feira, 21 de junho de 2010
O POEMA DE “OZ”
na terra do mundo prático de Oz
todo homem só
volta ao pó
quase instantaneamente
por que na foz
de todas as lágrimas
todas as páginas
choram espontaneamente
e quem você gosta
desaparece de repente
e você sabe,
embora não aceite,
quarta-feira, 16 de junho de 2010
O POEMA DOS “OS”
Por um tempo
eu fui irritantemente OBSEQUIOSO;
depois, e bem aos poucos,
me tornei irrefletidamente OBSESSIVO...
Rapidamente,
quase instintivamente,
eu fui dormir um dia assim
e acordei OBCECADO...
Bem feito pra mim!
Que fui OBRIGADO a andar mais calmamente
pra disfarçar o fato de ter me tornado OBSOLETO...
E aproveitando que num segundo
todos os OBJETOS são ÓTIMOS
e já no segundo seguinte
as OBVIEDADES e todos os OBSTANTES
não são bons o bastante;
vou tentar ser menos OSTENTOSO
e admitir que minha falta de chão é OSTENSIVA!
Que a falta de chão é o verdadeiro OBSTÁCULO!
[ Aguardem "O POEMA DE OZ" na próxima postagem. ]
terça-feira, 1 de junho de 2010
HAIKAIS
HAIKAIS
DO JARDIM
A flor no jardim
tem cores e contornos
que lembram você.
DO RENASCIMENTO
Azuis ou verdes
meus olhos te enxergam
e ressuscitam.
DO BEIJO
Depois do beijo
coração que andava
passou a correr.
DA CHANTAGEM
Te dou um haikai
mas quero um abraço;
um não, quero mais.
DO PÔR-DO-SOL
Tranquilamente
o fim de tarde lindo
fez o dia sumir.
DO TORMENTO
A paz é a lua
e minha falta de paz
- o universo.
DO PESADELO
Fui dormir cedo
acordei às três horas.
- pesadelo ruim!
DA SOLIDÃO
Sentir solidão
é tão, mas tão ruim
que chega doer!
DO CAFÉ COM JORNAL
Café com leite
pão nove grãos e suco
- olhos no jornal!
DO JORNAL NO CADERNO DE ESPORTES
Bateu na trave!
Uhhhh! Monossilábico
- estádio chorou!
O Inter ganhou
podia ter empatado
- ficou bom assim.
O Grêmio perdeu
podia ter empatado
- gostei mais assim.
DO CELULAR
Tocou celular!
Musica idiota!
- Maldito chefe!
DO HAIKAI
Peguei o jeito
os haikais são perfeitos
pra definições.
( Esse post é dedicado ao meu amigo Élcio, do blog "Verseiro". Se não fosse por ele eu não teria escrito esses "Haikais". Também não teria vencido algumas barreiras e, enfim, aquele longo poema do dia 19 de novembro de 2009 sobre meu pai, não teria nascido. Também sem o seu convite eu não teria me descontraído o bastante a ponto de "atinar" aquelas coisas da blogagem coletiva do 1º de abril de 2010; a minha primeira, e até agora única, blogagem coletiva de que participei. Tudo culpa do Élcio.
Então, ele me apareceu com mais essa. Sugeriu que eu escrevesse uns "Haikais". E aí eu tive que ir atrás para saber do que se tratava. A primeira coisa de que me lembrei é que esse nome tinha todo jeito de nome de drink. Mas eu pesquisei e descobri que ia dar o maior fora se insistisse com essa história de drink. E pronto, vi do que se tratava, achei a bilheteria, paguei uma entrada, e entrei de vez no universo dos certeiros, suaves e concisos "Haikais" de três linhas e 17 sílabas; distribuídas na forma de 5, 7 e 5 sílabas respectivamente em cada linha.
Escrever esses "haikais" foi um exercício e tanto. Saíram esses primeiros que estou publicando agora. E podem imaginar, à medida que ia escrevendo era um tal de contar nos dedos as sílabas para encaixar os versos no esquema 5-7-5. Estranho e viciante. Me senti um verdadeiro japonês sentado no chão em cima das próprias pernas.
Dizem que as primeiras poesias são meio ingênuas. Depois vamos apurando o estilo e elas encorpam. Posso dizer o mesmo desses "Haikais" aí em cima. Os meus primeiros "Haikais". Um tanto simples. Outro tanto ingênuos, sim. Mas os primeiros. Bebês "Haikais" que ainda dependem do meu colo, mas que com o tempo, terão sua adolescência e fase adulta e andarão pelas próprias pernas. Tomara! )