quinta-feira, 2 de setembro de 2010
SONHOS AMARROTADOS
mergulhado em tristeza sem fundo
em inadequação do tamanho do mundo
procuro estrelas e só acho pontos de luz difusa
o sorriso se apaga
quando a luz das duas estrelas dos olhos se fecha
parca retórica até bonita, quando feio é quem usa
quero entrar noite adentro e sair ileso
mas com todo esse peso
a única brecha, mais veloz que flecha, se fecha...
soterrado por pensamentos estranhos
espero segundos mais lentos que passo de tartaruga
e como um paquiderme
rengueando para se safar do perigo
ostento a milésima fuga
e falo muito sem nem entender o que eu digo
não sei se são esperanças ou esperas inúteis
pego no sono com o cotovelo na mala e a mão no queixo
por dentro uma fala que insiste em gritar
mas que não deixo
e ao meu lado andando serenamente
aquele pedaço da noite de maior solidão
em que até os bêbados
e os que roubam carros já dormem
arrasto passos lentos mergulhado em tristeza
vou como se estivesse cavando buracos
no fundo de um imaginário poço
alguém me chama
parece ser do outro lado da rua
mas é a minha própria voz que eu ouço
e sei então que é hora de guardar
o vazio e a solidão dentro um do outro
e fazer como fazemos com as bolas de meia
entre as roupas da mala
ou as meias, ou as roupas se acomodando
ou simplesmente amassando
como amassados, por vezes ficam,
os lisos papéis das escrituras de posse
dos nossos sonhos adiados
que vão se amontoando...
[ NOTA: Sentei e comecei a ler. Não era uma história qualquer, era a história de uma das meninas, da série "As Meninas" da Deia do blog Rumo à escrita.
Estava lá o título “A menina e a noite - da série as Meninas - 6" me convidando para uma boa leitura. Em determinado ponto, a imagem dos minutos que se amontoam enquanto vamos esperando me fez pensar nas noites inteiras em que nos sentimos frios e vazios, a ponto de adormecer com o corpo pesado, pendendo sobre nossas malas e apenas com a noite no lugar do telhado. Na mesma hora, num comentário que deixei sobre o post, eu comentei com a Deia que aquela bela imagem, se bem explorada, daria um bom ponto de partida para uma nova poesia.
No mesmo dia ela veio aqui para me fazer um pedido. Perguntou: “porque não escreve o poema que imaginou ao ler aquela frase lá no Rumo”? Então eu reli “A menina e a noite”. Parei de novo no ponto do texto que me sugeriu as imagens e comecei a escrever.
Depois duma troca de e-mails com a Deia, eu enviei os versos acima, em primeira mão, para que ela “sentisse” a poesia. Sugeri que ela escolhesse uma imagem que casasse com a poesia e um título adequado, enfim algo da sua cabeça e que tivesse a ver com os sentimentos que a poesia despertasse nela.
Então ela escolheu essa foto fantástica que combina perfeitamente com as coisas que transitaram por minhas estranhas e escondidas avenidas quando concebi esse poema. E o título “Sonhos Amarrotados” é como uma roupa de festa cobrindo o meu poema com simplicidade e delicadeza.
Por último combinamos publicar em nossos respectivos blogs, de forma simultânea os meus versos, ao acompanhamento do título e da imagem escolhidos pela Deia. Um casamento perfeito para que vocês aproveitem e, depois, lá no Rumo à escrita ou aqui no Pelos caminhos dos plátanos deixem seus comentários."]
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Olá Daniel!
ResponderExcluirFazia muito tempo que não lia um poema que me tocasse tanto, tamanha identificação..
Como disse uma amiga minha, poderia ser co-autora, não do poema, mas do sentir.
O sentir é universal, e mesmo sem nos conhecermos pessoalmente, quando lemos há uma identificação imediata e uma aproximação que faz lembrar-nos que somos feito do mesmo pó e do mesmo sopro de vida..
E o poesia vai cumprindo sua missão de reunir em torno dela àqueles cuja sensibilidade transcede.
Parabéns, vc foi muito feliz nesta composição!
Abraços poéticos!
Oi Dani! Seu poema, cada vez que o leio, adquire novos dimensões e significados. E hoje estou coberta de sentimentos, tal qual a moça sentada na mala, a noite a lhe fazer teto. Sento-me à sua porta, aqui Pelo caminho, e peço-lhe a sua companhia! Um beijo, honrada por ter inspirado um poema brilhante! Sua amiga, Deia.
ResponderExcluirOlá Daniel...
ResponderExcluirConvidamos todos os nossos amigos a lerem a entrevista do eterno amigo Hod ao nosso Espaço Aberto. A entrevista seria postada no próximo dia 1º de outubro de acordo com a agenda do Blog. Mas, diante da passagem do nosso querido amigo Hod, queremos prestar a ele a nossa singela homenagem. Estamos certos de que realmente ninguém morre enquanto permanece vivo em nosso coração.
Um abraço carinhoso
Realmente um casamento perfeito!
ResponderExcluirIncrível o poder que certas leituras fazem em nossa mente e interior.
Estimo que mais parcerias brilhantes como essa possam surgir e nos encantar nessa blogosfera.
Um abraço carinhoso
Querida amiga, lindo poema..Beijocas
ResponderExcluirO Rumo trouxe-me ao seu Espaço, e que bom ter aceito o convite! Penso que os poemas guardam essa magia de encontrar-se, no caminho, com nossos passos trançados, titubeando os movimentos. Ele sabe o momento do encontro. E esse encontro sustenta e apoia, sem nada indagar. Apenas acolhe! Abraça! Nada é preciso explicar! Basta a sensibilidade tomada emprestada do poeta e apenas sentir... nada mais!
ResponderExcluirEssa é a magia do seu poema, nascido também da magia do olhar que emprestou ao Rumo e da sensibilidade em tecer sentimentos poéticos servidos a quem quiser saborear.
Um grande abraço, Daniel!
Encantada !
ResponderExcluirOnde encontrar mais tanta beleza senao nos blogs desses amigos poetas.
Vim através da Deia e fico apreciando o que mais me move no momento - as palavras.
Parabéns Daniel, continuo por aqui apaziguando meu coração tão doído pela perda de um amigo.
abraços
Oi Daniel...
ResponderExcluirEstou passando para lhe agradecer pela visita e tb por sua generosidade no seu comentário...OBRIGADA!
Vc é um Poeta Grande!!!!
Tem muita sensibilidade,ternura,eu diria que sua alma é linda...
Acho que nem posso me dar o direito de julgar uma poesia sua...
Só posso me encantar!!!!
bjos!
Zil
"Apenas com a noite no lugar do telhado"...que lindo isso...Parabéns a Deia que inspirou tão lindo poema! Nada como a mesma inspiração embalando dois corações diferentes. Bjs.
ResponderExcluirAh!...já estou te seguindo com o maior carinho viu? Bjs.
ResponderExcluirBoa Noite
ResponderExcluirVim conhecer teu Blog pelo Blog da Deia achei muito lindo muito bonito e inspirador e é para ser sentido mesmo.
Bjs e sucesso sempre!
Daniel, teu poema é excelente! Destes que nos dão um aperto no estômago ao ler. Senti-me mergulhando num espaço sem fundo e sem paredes. Toca-me especialmente as 'inadequações do tamanho do mundo', talvez por saber como isso nos faz sentir vulneráveis.
ResponderExcluirMas, e se a mala se abrir pelo caminho? e se rolarem pelo chão as bolas de meia, de vazio e solidão? E se ficarem por lá, pedidas, porque a mala precisava de espaço para o que os dias trazem de novo?
E se desamarrotarmos, antes dos sonhos, o agora?
Oi Daniel...eu nem sabia a sua altura..rsrsrsrsrs......
ResponderExcluirE sei do que estou falando...como todos os que passam por aqui tb sabem...Poeta Grande!
Pois é..."É em seu nome que meu coração...
Insiste em pulsar...."
Tá bastante claro que a pessoa já foi.....
Eu gosto de drama....rsrsr...
Gosto dos amores sofridos....
Vai encontrar muitos poemas assim no meu blog...
Vou lhe pedir licença....pra lhe seguir...fica mais fácil...pra acessar vc...ok?
bjo!
Zil
Oi Daniel
ResponderExcluirTambém sou de Porto Alegre e mora em Porto Alegre mesmo, deve ter sido dificil estar no mesmo hospital que o nosso amigo eu só o conhecia virtualmente mas já era um grande amigo e especial,
Bjs e bom fim de semana
Oi Daniel, entendi foi uma situação inesperada mas temos que seguir em frente, obrigada pelo comentário.
ResponderExcluirBjs e bom domingo (espero que sem chuva)
O poema vai criando uma expectativa... excelente!
ResponderExcluirDaniel, te vi como o "Pequeno Polegar" entre os amarrotados sonhos.
ResponderExcluirEm movimento porém.
Tanto quanto as folhas secas dos plátanos rodopiando sob vento.
Você cria um ambiente tão verdadeiro, que é impossível não sofrer junto com a personagem. Lindo dom o seu, que vc o cultive mais e mais e nos presenteei sempre com tão belas palavras!
ResponderExcluirAmigo comentei lá que adoro esse entrelaçar de raizes e de emoções que oxigena e dá nova vida a blogosfera parabens pelo poema tocante Um abraço amigo!
ResponderExcluirHum.. era só um teste pois não me lembrava se havia aprovação de comentários ou não, rs. Mas a quantidade de iiis, se não me engano, tinha uma quantidade mínima de caracteres e no mais, só Vi, era pequeno demais!! Mas sim, quando me chamam de 'Vi', soa assim mesmo, com vários i's.
ResponderExcluirAh, sim, Vi de Virgínia, prazer!
Obrigada por seus comentários no blog, e claro, por favor, não publique isso!
Tudo de bom!