Ver a Vanda correr os olhos sobre as minhas letras, esboçar um sorriso, apreciar um texto meu sem saber que o era, seria quase como vê-la se despir sem saber que eu a estava olhando.
[ Chico Buarque – Budapeste p. 103 ]
Desde segunda que eu tenho corrido meus olhos sobre as letras do Chico e sua narrativa, absurdamente poética.
"Budapeste" é um desses romances que já, em meio a leitura, mesmo estando a dezenas de páginas do ponto final, já se é capaz de elevar a categoria de livro favorito. Quem dissesse isso não estaria cometendo nenhum desatino. E nem seria um arroubo de entusiasmo injustificado. No meu caso posso dizer tranquilamente que já o coloquei em destaque na minha lista de essenciais.
A frase acima é poesia em prosa. E eu poderia dizer que nesse livro há centenas delas. Todas do mesmo naipe. Quase gêmeas. Palavras aproximadas pela força da leveza e do ritmo. Quase um livro para ser cantarolado.
O José Costa, A Vanda, o filho deles. A Kriska, o filho dela. O Álvaro, o alemão da biografia, os rapazes do escritório. O calor e a pouca roupa da orla do Rio. O gorro e o casaco pesado do frio de Budapeste. A apresentadora de TV daqui que é a própria mulher. E a mulher que fala em húngaro ininteligível na TV de lá. Tudo é assim e assado. Tudo rigorosamente tim-tim por tim-tim. Despretensioso e sofisticado na riqueza de detalhes. E de um jeito que dá vontade de ler e reler e de continuar lendo sem parar.
É um livro que fala de um livro. Que passa do afastamento lento de uma para a aproximação rápida de outra. Aborda a agitação de viver estando em evidência para a monotonia de experimentar o anonimato. É rápido e lento
Vá portanto! Corra seus olhos sobre Budapeste. Solte-se. Imagine e imagine-se. Talvez ele entre por seus olhos e fique para sempre em suas lembranças de um belo livro para quem gosta de inteligência, de boas frases e de poesia.
Chico é um ser inspirado. Ele realmente tem o dom de fazer-nos 'cair de joelhos para tudo que escreve'. Suas músicas marcaram várias etapas da minha vida, basta escutá-las e eu me remeto ao momento passado e bem saboreado, rss.
ResponderExcluirSeja bemvindo Daniel!
Carinhos