quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

PÁSSARO NEGRO E SOLITÁRIO



Meu céu sem cor
tem tons de cinza claro
e de cinza-chumbo...

Degradê insólito
de sentimentos estranhos
e reações dispersas...

Os outros pássaros partiram
quando amanheceu o dia.
Ja não aguentavam mais tanto inverno!

Era hora de sair para procurar o sol
e chegar em algum lugar ainda intocado.

Eu vi a formação em "v" riscando céus
cada vez mais distantes;
até que a música do bater suave de asas
sumiu na barra triste do horizonte.

Na bolsa não levaram pão nem migalhas;
apenas os sonhos bons
e a receita para se viver
em constante estado de poesia.

Deixaram nuvens e mais nuvens
e eu aqui no galho seco da árvore.

Lambendo as feridas...
Formatando memórias...
Desistindo de reescrever a história...

Aqui sozinho... Doente...

Com os pés dormentes
e todos os cinzas-chumbo
morando em cima da minha cabeça.

Com minhas culpas me censurando...
E todos meus silêncios me envenenando...

Com as asas tão pesadas
e as perspectivas tão desoladas,
que nem o sol mais tórrido
consegue mais me esquentar!

E então nada mais tem o menor jeito
e só o que resta é a pura força
para inspirar o ar duro e rarefeito...

E podem anunciar que achei a dor
ou que perdi a cor...
Eu pássaro negro e solitário...
Abrindo as comportas de todas as tempestades!

[ FOTO: AMANDA FONSECA - Mais uma vez experimento o desafio e a delícia de colar palavras a uma imagem. Foi o que aconteceu. Veio a imagem por e-mail na foto que a Amanda me mandou. E depois de olhar a foto uns pares de vezes me ocorreram os versos que você acabou de ler. Confesso que pensei em dizer que ando mais para “estradas sujas do que para tapetes persas”. Isso ia combinar com meus sentimentos estranhos e as reações dispersas. Mas seria só uma rima. Pássaros solitários pousam em galhos secos e cortam os céus quando resolvem partir. Voam. Deixam os tapetes para quem anda.]

20 comentários:

  1. Você diz aqui ao lado que a poesia não é para ser lida, é para ser sentida. Suas poesias sempre fazem com que eu sinta, sinta sempre presnte um sentimento forte.

    Principalmente quando são tristes.

    Um poema denso, que parece que foi retorcendo a alma para poder torna-se poema.

    beijo

    ResponderExcluir
  2. Olá Daniel, as culpas e os silêncios geralmente andam juntos e nos fazem pensar até mais do que realmente devíamos. Nem sei se vale a pena pensar tanto, mas sei que vale a pena as vezes voar, mesmo tendo os pés ainda no chão...
    Quanto a música lá, ficou bonitinha sim...rs
    E sabe que ontem fiz o poema mais rápido da minha vida também a partir de uma imagem...foi rápido
    Apesar dele ser pequeno as palavras vierm como eu queria, sem precisar pensar muito..rs
    Um abraço na alma...

    ResponderExcluir
  3. E, em algum lugar do sul, um pássaro está a voar. Não negro ou denso, mas certamente belo como a poesia deste teu texto. E a literatura é esta solidão de cinzas - claro e chumbo - mas lambendo as feridas e com coragem do voo há de vir o sol.
    Este teu belíssimo texto, Daniel, é um retrato falado da solidão dos homens, dos sonhos, da arte de escrever. E você está poeta, meu amigo.
    Um 2010 mais que melhor para ti e os teus.
    Um beijo, querido.

    ResponderExcluir
  4. E a experiencia saiu perfeita... :o)
    Total e perfeita sincronia entre imagem e texto... lindos, por sinal!
    Beijos, flores e muitos sorrisos!

    ResponderExcluir
  5. Daniel,
    Que as asas do pensamento nos transportem para onde seguem as aves!
    Um beijo

    ResponderExcluir
  6. Oi Daniel, obrigada pela visita no meu cantinho, fiquei muito feliz..volte sempre lá, seja sempre bem vindo!!

    As vezes temos este sentimento de solidão, de sentimentos estranhos, que ao nos tocar bate um silêncio e o tom de cinza invadem literalmente a nossa vida, mais após a tempestade sempre vem um lindo arco-íris!!

    Bjos e voltarei sempre!!

    ResponderExcluir
  7. Ficou excelente. O poema tem um clamor, a vontade que deu foi de dizê-la em voz alta.
    Gostei muitíssimo.

    ResponderExcluir
  8. Querido amigo; belo e triste! Nunca ninguém estárá só, enquanto existir um amigo, ainda que distante. Bom fim de semana! Beijos

    ResponderExcluir
  9. Gostei muito, Daniel. Me fez lembrar um poema que escrevi há tempos, mas nem sei por onde ele anda. Se eu encontrar, vou postá-lo e te chamo. Também acho difícil escrever sobre uma imagem, mas algumas realmente, pedem um poema. :) Beijo!

    ResponderExcluir
  10. ...não dá para resistir sem
    poemar em tons melancólicos
    quando o quadro se apresenta
    gris...
    céu gris, refrigério na alma
    que se deixa desabafar.

    que lindo é você!

    ResponderExcluir
  11. Daniel, obrigada por seu entendimento tão carinhoso de meu poema. Deixa te dizer que gostei demais disso, até invejei estes pássaros da rua alma: "apenas os sonhos bons
    e a receita para se viver
    em constante estado de poesia."

    Queria poder ser assim...!

    ResponderExcluir
  12. Um ano novo repleto de encantamento pra vc e sua família.
    Abraço.

    ResponderExcluir
  13. nohh que inspiração!!

    gostei.. belo, supreendente, doce, nostálgico.

    até.

    ResponderExcluir
  14. Desejo nesta semana para você:

    Paciência para as dificuldades
    Tolerância para as diferencias
    Benevolência para os equívocos
    Misericórdias para os erros
    Perdão para as ofensas
    Equilibrios para os desejos
    Sensatez para as escolhas
    Sensibilidades para os olhos
    Delicadezas para as palavras
    Coragem para as provas
    Fé para as conquistas
    E amor para todas as ocasiões

    beijooo.

    ResponderExcluir
  15. Corajoso na expressão!
    Essa é uma dor que merece ser vivida, pois que vívida é, mesmo se sob os cinzas.

    ResponderExcluir
  16. Daniel!

    Suas palavras são um perfeito complemento da imagem: pássaro ferido e triste que ficou... Lindo!

    Desejo ainda um 2010 cheinho de realizações. Que a felicidade continue acompanhando seus caminhos.

    Beijo

    ResponderExcluir
  17. Caro Daniel,

    Há que seguir ainda que as asas pesem tanto quanto as culpas e as perspectivas pareçam raras.

    É no seguir que vamos pulverizando as nossas penas.

    Beijos,
    Inês

    ResponderExcluir
  18. Daniel,

    Você já sabe o que achei do poema: ele tem todas as palavras que eu pensei insdispensáveis para traduzir a foto. Ficou doído e melancólico como tinha que ser, além de verdadeiro.

    Beijo!

    ResponderExcluir
  19. Gosto muito de poesia.Meus blogues
    estão abertos a todas as pessoas
    e a todas as artes e são_
    http://plullina.blogspot.com
    http://intemporal-pippas.blogspot.com
    e o mais recente
    http://livethelifewiththepassion.blogspot.com
    se permitir que eu insira uma poesia sua tinha muito gosto,
    basta deixar um comentário.
    Registei-me como seguidor do
    seu blogue e vou vir aqui
    mais vezes. Um abraço/Irene

    ResponderExcluir
  20. Vou inserir no meu blogue
    http://intemporal-pippas.blogspot.com
    este seu poema e fotografia.
    Obrigada pela cedência.
    Bjs./Irene

    ResponderExcluir

Adorei a sua companhia no caminho dos plátanos. Volte quando quiser!