terça-feira, 11 de outubro de 2011
DO EMBARALHAR DE VERSOS...
Nesta postagem há três poemas ligados umbilicalmente. “Paredes Pichadas por pegadas de lagartixa”, foi escrito em parceria com a Andrea do blog Olhar em Versos e Inversos Surgiu de uma idéia que tivemos de aproximar nossos versos. Não teve qualquer tipo de retoque ou revisão posterior. Foi escrito em menos de 15 minutos. As palavras vieram deslizando suavemente. Num segundo os versos de um, e em instantes os versos do outro.
Então, tão rápido quanto foi escrito, tivemos a idéia de tomar como base esse primeiro poema para escrevermos, cada um, um novo poema. Mais tarde, no mesmo dia eu voltei para o centro do meu universo particular e escrevi “A orquídea e os anéis de sorvete”. E, alguns dias depois, Andrea deixou “Sobre asas e lagartixas” ganhar sua forma definitiva. E foi assim que escrevemos todas essas coisas, depois de uma releitura do poema original.
Ter Andrea assim tão próxima em palavra e em poesia, nesse projeto, foi uma experiência das mais marcantes. Ter versos meus se misturando com os dela, foi certamente um jeito diferente de fazer poesia. Em todos os sentidos, empolgante!
PAREDES PICHADAS POR PEGADAS DE LAGARTIXA
( Daniel Hiver e Andrea de Godoy Neto )
O que sou soa peça enjambrada
riscos absurdos em uma parede pichada
como se minha história toda
fosse a da página arrancada...
A tinta ressecada não guarda lembrança
descasca a camada da pele,
desbota as palavras que já foram escritas
Como adulto que quer voltar a ser criança
e repetir palavras que jamais foram ditas...
Palavras escritas nos troncos de árvores
desenhadas na areia onde se perdem...
- Onde se perdeu minha voz?
Onde encontrei o verdadeiro prazer do silêncio!
No silêncio me sou bem mais
abro portas, me reinvento
me enjambro com novas estruturas
Rastejo fundo e caio no topo das maiores alturas
e o vento leva embora tudo que era tão certo
e que virou mera conjectura...
Escalo paredes lisas
onde lagartixas se perdem nas rachaduras
deixo a marca dos meus sapatos nas alturas
A ORQUÍDEA E OS ANÉIS DE SORVETE
( Daniel Hiver )
Sou a peça enjambrada
que alguém descobriu num ferro velho
de sonhos adiados!
Uma triste parede suja
cheia de lemas idiotas...
Pares nada parelhos de namorados
em corações desenhados de qualquer jeito
e todos tortos!
Nasci filho único dos becos frios
e das calçadas molhadas...
Minhas manhãs não são convencionais
e meus programas de variedades não variam!
Sou o cara do filme de trinta segundos
da nova campanha dos desajustados!
E a dúvida cruel
é se a pequena grande história
cabe numa página arrancada...
- Ou numa página virada!
Sou recado escrito por caneta
que marca fundo o papel
mas que não escreve...
Não guardo lembranças!
Não como, não amo!
E o que sou e não sou
eu sei e não sei,
por que minhas palavras
são a própria estupidez!
Meio adulto, meio criança
estou sozinho quase toda vez...
Radical e rudimentar!
Coercitivo e assertivo!
Cansado de viver
eu faço de conta que vivo!
E falo sozinho
Por que estou na ilha deserta...
Estou no banco dos réus,
no para-raio dos arranha-céus.
Sou da “Polizia” e da “Ommerta”...
Escrevo versos cegos
a ponta de canivete afiado...
O tronco das árvores
é meu papel de pão...
Versos intrigantes
convivendo pacificamente
com parasitas e orquídeas!
Minhas pegadas no asfalto
somem como se fossem na areia da praia...
Não deixo vestígios
quando perco a voz
e dou um vôo de gozo
no intenso prazer do silêncio!
Limpo paredes mofadas
com panos úmidos de poesia espontânea...
E minhas idéias estão embebidas
de improváveis águas azuis mediterrâneas...
Fecho portas que se abrem
quando meus olhos amanhecem...
As ruínas e os escombros
ornam meus horizontes
com diamantes e anéis de sorvete...
E minhas mediocridades
invadem o território das obras-primas...
Por que não há saídas de emergência
em salas particulares de cinema...
E minha geometria
é um intrincado e difícil teorema...
Por que rastejo quando devia subir escadas.
E quando estou nas alturas só consigo olhar para baixo...
Num piscar de olhos vou sem ir
da terra de gelo dos pingüins
às lavas incandescentes de vulcões interiores
que nunca apago...
Por que se dependesse hoje de um afago
qualquer ação me pulverizaria...
Por que convivo com edredons de sonhos desconcertantes
e tomo pílulas de otimismo bobo...
O vento da realidade frívola é forte.
Mas pelo menos as óbvias razões
não me contaminam...
Tento escalar paredes cheias de rachadura
onde só há lagartixas
e solo coberto por flores de agrura...
E as pegadas que vou deixando
são as de um criminoso,
que calça 43
e que mata o próprio tempo
com requintes de crueldade...
E assim vou adiante foragido
de minha própria auto-estima!
SOBRE ASAS E LAGARTIXAS
( Andrea de Godoy Neto )
Não sei ser peça recondicionada
Remendos e enjambres
Não sustentam minhas pernas tortas
Tenho asas!
Não importa que toda a minha história
Seja página virada ou parede pichada
Sobre pele descamada onde desbotam
As palavras ressecadas
Não volto meu olhar sobre o passado
O que foi dito e o que foi silenciado
Ainda está gravado no pó que sustenta
As árvores da minha inocência
E minha voz, que hoje é tantas
No silêncio se reinventa
Abre portas, traça novas rotas
Caminhos, por vezes, definidos no grito
Conheço a terra úmida que jaz
No fundo de um poço [e não gosto de lama]
Mas é nas alturas que me reconheço
No topo me sou melhor
Escalo montanhas de nuvens
Árvores e paredes movediças
Onde não encontro sequer uma lagartixa por companhia
E deixo como pegadas um rastro de asas
[ainda que combalidas]
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Daniel, querido
ResponderExcluirobrigada pelas palavras.
foi um prazer imenso compartilhar, (ou melhor, embaralhar..rs) versos contigo.
a dinâmica do teu processo criativo sempre me encanta.
beijo
A construção conjunta e construação individidual dos poemas. O poema de Andrea traz a força de construir-se, reconstruir-se. E relendo o poema de Daniel sinto a força de vida, do viver.
ResponderExcluirBelas construções. beijos
Parabéns aos dois
ResponderExcluirLindíssimos poemas,versos!
Abraços
Ju
experimentar
ResponderExcluirexperimentação
expressão!
bom demais este caminho.
bjs
Passado sempre presente.
ResponderExcluirBonito.
retorno aos blogs um mês após publicação do poema a 4 mãos! Abs!
ResponderExcluirQuerido amigo,
ResponderExcluirÉ Natal...
Um momento doce e cheio de significado para toda a nossa vida...
É tempo de repensar valores,de ponderar sobre a vida, e tudo que nos cerca.
É o momento de deixar nascer essa criança pura, inocente e cheia de esperanças que mora dentro do nosso coração para termos um mundo com muito mais Amor e Paz!!!
Desejo a você e toda a sua família um Natal abençoado e cheio de alegria.
FELIZ NATAL!!!!!
Beijocas de luz e paz...