terça-feira, 11 de janeiro de 2011

SETE DIAS

Dia primeiro do ano uma dor forte
nas costas, no peito,
quase pelo corpo inteiro.

Já era o segundo dia do ano
quando o plantonista frio
diagnosticou quadro leve
de infecção urinária.
Subministrou tramal
buscopan, metoclopramida
e uma ampola de morfina
ao amanhecer...

Sedada ela dormiu
o resto do tempo
e só acordou em casa
no terceiro dia do ano
pelo meio da tarde...

As mesmas dores insistiam!
Nova entrada 
segunda às dezenove
só que noutro hospital...

Mesmo com bom convênio
só foi atendida às vinte e três!
Fez bateria completa de exames
e por volta das quatro
do quarto dia do ano
descobriram que aquelas dores
do primeiro dia
eram de enfarto agudo do miocárdio...

Ainda na manhã do quarto dia
um cateterismo
vasculhou os caminhos do sangue
e achou num ponto
entupimento total
da artéria principal...

Na UTI à noite
conversava como criança feliz
no horário das visitas.

No quinto dia do ano
parecia melhor ainda;
gostava do jardim de inverno
à esquerda da sua cama...

Na madrugada do sexto dia
uma crise absurda de asma;
teve de ser entubada
por que a vida só continuaria
com respiração forçada...

Na hora da primeira
e da segunda visita do sexto dia
quem entrou na UTI viu aquilo
com aperto no peito.
Os braços amarrados
a respiração era pesada
e o coma era induzido...

Todos se foram pra casa
e quando voltaram
para a última visita,
descobriram que a penúltima
tinha sido já a última...

Algo estava muito errado.
A linha do nome da paciente
do leito de UTI número nove
estava em branco;
foi mais meia hora de angústia...

Às nove da noite a notícia óbvia
do falecimento às cinco e meia...
na hora em que eu tomava café em casa!

Disseram que tentaram
avisar a família;
mas meu celular e meu fixo
não me chamaram...

Disseram que tentaram de tudo
mas que na recidiva do enfarto
nada pode ser feito...

Depois só restou 
o silêncio do sétimo dia;
as sensações estranhas;
as lágrimas de chumbo
e os subterrâneos do Jardim da Paz!

[ Relato sobre a última semana de vida da minha mãe. Ela tinha 83 anos e até o fim foi uma pessoa alegre, decidida e positiva. Raramente se queixava das fortes dores provenientes da artrose. Escrevi estes versos desordenados no oitavo dia de manhã. Um domingo. Eu já chorei muitas vezes mas sei que ainda não consegui chorar do jeito que devia. ]

12 comentários:

  1. Amigo!

    Força e coragem nesse momento difícil.
    Sua esperança é genuína. Tudo é temporário.

    Um beijo no seu coração.

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  2. É preciso tempo para se aprender que a morte é parte da vida...

    Deixo um beijo solidário

    L.B.

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  3. Puxa! Fiquei emocionada...
    Que pena isso.

    Fica bem ,tenha força pra enfrentar essa saudade e que ela descanse em paz!
    abraços, chica

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  4. Daniel, deixo meu abraço amigo, meu ombro para você chorar todo o choro que precisa ser posto para fora.
    Força e beijo.

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  5. É uma dor tão sofrida que vem e não pára, que insiste em ficar. Mas tudo passa, amigo.
    Mas existe um exercício para as dores da alma: pense como ela foi feliz e como foi querida... Talvez ajude um pouco sua dor.

    Beijos. Fique com Deus,

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  6. Nossa Meu Amigo...
    Meus sinceros sentimentos!

    Peço que Deus fortaleça o seu coração!

    Um abraço solidário e um beijo bem carinhoso

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  7. OLá amigo, sei bem o que é isso e sei também que o tempo é o melhor companheiro, lembrei do seu poema...
    Meus sentimentos...
    Um abração na alma e um outro no coração...
    Força ai...

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  8. Desculpa amigo...me falaram que tinha sido seu pai e confesso que só tive cabeça para lhe deixar umas palavras de consolo...perdão...que sua mãe possa descansar em paz e que o tempo amenize a sua dor junto a seus familiares e amigos
    Mais uma vez desculpa...
    Um abraço na alma
    Elcio

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  9. Olá Daniel, que notícia mais triste.. Sinto muito por isso.. Nesse momento oro a Deus para que conforte o seu coração e de todas às pessoas próximas e que a receba de braços abertos. Nunca perdi ninguem, mas todos imaginamos a dor. Não é legal ouvir ou dizer "Seja forte" ou "Não chore", ou até mesmo "Chore!". Que você consiga respeitar esse momento, que chore quando vier a vontade, mas que também sorria com as lembranças e marcas deixadas por uma pessoa tão especial quanto nossa mãe. Que Deus te abençoe e lhe dê forças de hoje em diante. Abraços, Amigo.

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  10. Nessas horas não há o que se dizer; tinha que ser olho no olho, silêncio e abraço apertado. Se precisar de alguma coisa, mando meu email. Se cuida... Abços...

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  11. mas conseguiu escrever Daniel, então é porque tudo está sendo processado.
    meus sentimentos querido, a vida segue...
    bjs

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Adorei a sua companhia no caminho dos plátanos. Volte quando quiser!